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Horácio Nogueira foi o pároco da Comenda que por aqui esteve menos tempo - cerca de dois anos - mas deixou uma obra, 'Há Vida na Charneca - narrativas alentejanas', que é na minha opinião um dos melhores testemunhos algum dia feito sobre um lugar, uma região, o seu povo e as suas tradições e modo de viver. Um livro que conheceu a sua segunda edição no já distante ano de 1957. Sorte da Comenda que muitas outras aldeias não conheceram pois este pequeno livro vale muito mais que pesadas e aborrecidas monografias que muitas vezes apenas se fazem com muita palha e teorias fantasistas, sem qualquer verificação arqueológica e histórica, tornando erros crassos em verdades depois de ampla difusão.
O pedre Horácio foi um dos párocos que rapidamente se integrou na vida da aldeia. Quem o conheceu sabe que gostava de jogar a sueca batida no 'Café Alentejano' e que estava sempre disponível para longas conversas na sua residência, como quando recebeu um velho camponês que ia casar com uma mulher mais nova e que não queria pregões ("Não devia existir uma lei assim").
Em conversa com o senhor Manuel Catarino na esplanada de 'O Choupinho', a Casa do Povo da Comenda, consegui finalmente uma relação cronológica dos párocos que passaram pela Comenda no século XX. O senhor Catarino tem problemas de mobilidade mas quase todos os dias sai de casa para dois dedos de conversa, com a ajuda da sua motoreta elétrica e um par de bengalas.
Pois bem, contou-nos ele que o primeiro padre que conheceu foi o padre Aurélio, a que se seguiu o padre Farinha. Veio depois o já citado padre Horácio (que era também professor de música), sucedido pelo padre Gabriel, a que se seguiu o padre Lobato Novo (que editou mesmo um jornal). Este último de novo depressa passou a ter pouco pois ficou 42 anos na Comenda, tendo sido o último padre residente.
Hoje quem aqui dá missa, ao domingo, é o padre Cristiano Pedro, de seu nome Eva Petrica Cristinel e um jovem de apenas 41 anos de idade, ordenado em 2009 e com residência em Gavião. Que aqui estará na próxima semana para a procissão das velas, depois de na Comenda ter estado também a celebrar a Paixão de Cristo.
A Comenda perdeu o seu padre residente mas continua com uma forte ligação às práticas litúrgicas católicas, venerando em especial a imagem de Nossa Senhora das Necessidades, que nem é a padroeira da igreja matriz (dedicada a Nossa Senhora da Graça), e deve ter uma palavra de gratidão para todos os párocos que por aqui passaram e não se limitaram ao ofício religioso, contribuindo para a história da aldeia e para a sua dinamização social e cultural.
Aqui fica a minha homenagem a todos eles.