Corria o dia 13 de setembro de 2025 quando, no Cine Teatro Francisco Ventura, em Gavião, o Partido Socialista apresentou os seus candidatos às autárquicas. Valeu pelo simbolismo e pela cenografia pois há muito tempo que já estavam definidos os líderes das listas para as juntas, a Assembleia Municipal e a Câmara.
A liderança de António Severino, por exemplo, já estava definida e fora anunciada há mais de um ano. O mais importante foi feito com tempo para maturar e trabalhar as outras listas, como aconteceu, com escolhas cirúrgicas nas listas das freguesias, captando candidatos com pacote de votos e apostando muito forte na reconquista da junta da Comenda, a única que nas últimas décadas ia fugindo ao PS.
A "máquina socialista" de Gavião não facilitou muito antes de ir para o terreno em campanha. Quando tal aconteceu, a inércia estava vencida e a velocidade de cruzeiro foi atingida rapidamente.
A 23 de setembro aconteceu o primeiro e único debate televisivo, no canal 'Conta Lá'. Um debate sem história mas apenas com a presença de Severino e Filipe. A candidata da CDU, Helena Sebastião, e o do CHEGA, Artur Semedo, primaram pela ausência. Ausências que explicaram como estavam as dinâmicas das campanhas.
O PSD, neste aspeto, não facilitou. Vítor Filipe, apesar de todas as dificuldades em unir as suas listas, nunca baixou os braços e foi mesmo o primeiro a colocar cartazes na rua. Foi desde o primeiro minuto um candidato à Câmara focado e determinado mas muitas vezes a puxar sozinho a sua máquina. Conseguiu ser eleito, veremos se consegue agora manter-se como líder da concelhia.
Com setembro a caminhar para o fim, o candidato do CHEGA - partido que nas últimas legislativas superou os 500 votos em Gavião - a mostrar finalmente ao que vai mas temos de ser nós a ir atrás dele. O CHEGA não se via nas ruas e os seus cartazes só apareceram na última semana e só na vila de Gavião - os pendões para as freguesias ficaram no caminho. Deu para perceber desde o ínicio que o CHEGA nacional não pôs fichas no concelho de Gavião, deixando esta sua candidatura no fim da fila. Uma candidatura desde logo fragilizada pelo facto de só se apresentar à Câmara Municipal, deixando de fora a Assembleia Municipal (onde tinha um representante) e as freguesias (onde tinha outro eleito). A campanha do CHEGA tinha tudo para correr mal e Semedo - que até dominou o debate da Rádio Portalegre - só saiu à rua como candidato a dois dias do fim. Os 152 votos que conseguiu perante este contexto quase são um resultado extraordinário.
A CDU, por seu lado, também andou aos soluços na pré-campanha. O facto de Rui Vieira ter decidido concorrer desta vez à junta de Comenda baralhou o jogo. O ainda vereador conseguira 545 votos em 2021, mais de metade dos votos garantidos pelo PS. E vinha de um mandato positivo para quem foi acompanhando as reuniões de Câmara e as suas presenças no terreno - sempre interventivo e a conseguir e ali vitórias. Um capital quase todo deitado fora, com a CDU a avançar com a secretária da junta da Comenda, Helena Sebastião e a acertar à última hora candidaturas para as juntas de Belver e para Gavião e Atalaia, onde foi a jogo só por ir. Para não ajudar, a candidata à junta de Margem, Ana Saraiva, foi hospitalizada pouco antes da campanha eleitoral oficial.
Contas feitas no final, a CDU perdeu o vereador, perdeu representantes na Assembleia Municipal e nas assembleias de freguesia e, sobretudo, perdeu por 18 votos a junta de Comenda para o PS. Não podia ter corrido pior.
O dia 30 de setembro foi o primeiro de campanha oficial e percebeu-se logo que o PS ia entrar a trunfar, começando a fazer quilómetros em terras de Belver na companhia de um antigo presidente da Câmara, Jorge Martins, um histórico do partido que nos últimos anos correu por fora. "Com todos, por Gavião" era slogan para cumprir e percecionar. Mais tarde, os antigos presidentes de Câmara Galinha Barreto e Jaime Estorninho também iriam entrar em ação, para além de José Pio, este último quase sempre a manter-se numa segunda linha.
O PS Gavião nunca deu um passo sem pensar onde ia pôr o pé (e um dos grandes responsáveis por isto foi Francisco Louro, diretor de campanha). O que também explica o super resultado final de 64,71%, o segundo melhor resultado de sempre do partido em autárquicas, só superado pelos 67,83% de Galinha Barreto em 1993, a primeira vez que o PS em Gavião superou a barreira dos 60% que viria a ultrapassar ainda com Jorge Martins (62,17% em 1997 e 64,05% em 2005) e José Pio (63,99% em 2017). Números que confirmam a resistência e a resiliência da força socialista no concelho.
Sobrava, por isso, para o PSD de Vítor Filipe e para os outros concorrentes uma missão quase impossível. Mas nem por isso Filipe e os poucos que o acompanharam desistiram e também eles percorreram o vasto território gavionense. Sem uma multidão atrás, com uma apresentação pública falhada apesar do porco no espeto, sem todos os candidatos como o PS (nem de longe, nem de perto) mas com sentido de como deve decorrer uma campanha em ambiente não urbano, batendo também às portas que se abriam (e foram sempre poucas em aldeias hoje a caminho da desertificação). Não faltou esforço nem meios mas terá faltado o mais importante: coesão (no terreno e na hora de votar, entenda-se).
Uma coisa esta campanha deu para perceber: há aldeias do nosso concelho em risco demográfico e são muitos os residentes que mantêm a sua morada nos concelhos da cintura lisboeta onde trabalharam. Ou seja, são já poucos os que cá estão e são muitos os que oficialmente aqui não residem mesmo fazendo aqui a sua vida - uma realidade que o próximo executivo tem de começar a tentar mudar se entender que deve manter a velocidade exibida nos quatro anos que medeiam eleições autárquicas.
Estaremos aqui para ver.


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