Artur Semedo é o candidato do CHEGA à presidência da Câmara Municipal de Gavião. O partido de André Ventura concorre pela segunda vez às autárquicas neste concelho hoje com 3.077 eleitores. Há quatro anos, Artur Semedo foi eleito para a Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de Gavião e Atalaia enquanto Fernando Faca era eleito para a Assembleia Municipal. Nas eleições de 2021, o CHEGA somou 82 votos para a Câmara Municipal (não elegeu vereadores), 126 votos para a Assembleia Municipal e 168 na Assembleia de Freguesia de da União de Freguesias de Gavião e Atalaia (ficou a 49 votos de ultrapassar o PSD). Nas últimas eleições legislativas, o CHEGA conquistou 511 votos (24,7%) e foi a segunda força política mais votada (o PS somou 842 votos). Este último resultado dá ao partido esperança de conseguir pelo menos eleger pela primeira vez um vereador em eleições onde falha, surpreendentemente, candidaturas à Assembleia Municipal e às Assembleias de Freguesia.
Nascido em Montalvão (Nisa) há 71 anos, Artur Semedo é o cabeça de lista do CHEGA e com ele estivemos hoje para uma conversa de apresentação.
O candidato completou a 4.ª classe em Montalvão e depois foi viver para a terra dos pais, Cebolais de Cima, no distrito de Castelo Branco. Aí começou a trabalhar, com 10 anos, numa fábrica de lanifícios, tornando-se tecelão profissional aos 14 anos. Começou a estudar de noite em Castelo Branco e ia para a escola de bicicleta - 10 quilómetros para lá, outros tantos para cá. Fez o curso geral de comércio sem nunca chumbar e rumou sozinho para Lisboa. Trabalhou brevemente no Instituto Nacional de Estatística, foi para a tropa em 1973, aí foi administrativo e em 1976 foi trabalhar para uma empresa norte-americana de materiais de construção e hotelaria. No início dos anos 80, concorreu para a Caixa Geral de Depósitos, então ainda Caixa Económica Portuguesa, e foi o segundo classificado entre 900 concorrentes. Foi colocado na sede da Caixa, no Largo do Calhariz, e depois na agência de Castelo Branco. Daqui rumou a Gavião, para abrir a agência da Caixa no local onde ainda permanece. "Só conhecia Gavião de passagem", faz notar. "O prédio é da Caixa e começámos ali seis pessoas", acrescenta. Pelo meio, deu milhares de explicações de matemática. "Ainda por aí ainda muito gente que teve lições comigo", diz.
Mas vamos à conversa.
- Como era o Gavião que conheceu pela primeira vez e como é o Gavião de hoje?
- O Gavião parou a sua evolução. Quando aqui cheguei o concelho tinha mais de quatro mil habitantes, havia muito trabalho sobretudo na área florestal. Hoje é o que sabemos.
- Quando se envolveu na política?
- Quando estava a reformar-me, há 13 anos. Fui eleito pelo PSD para a Assembleia Municipal mas saí por não me entender com o atual líder do partido em Gavião.
"A democracia não chegou a Gavião"
- O CHEGA como chegou à sua vida?
- Fui convidado nas eleições anteriores e o mesmo aconteceu agora. Este último processo não foi fácil e aceitei ser candidato à Câmara no último dia.
- Gavião sempre foi socialista, porquê?
- O feudalismo nunca acabou em Gavião. Acabou a ditadura e passámos para a bandeira do socialismo. Não houve evolução. Não querendo menosprezar ninguém, a classe política gavionense atingiu o grau de Peter. As pessoas continuam muito dependentes. A democracia não chegou aqui. O domínio é total. Quem não andar com a bandeirinha não leva nada.
- Pensa ser eleito vereador?
- É o meu desejo.
- E presidente da Câmara?
- É difícil mas não é impossível. Não concorro para perder, concorro para vencer.
- O que deseja para Gavião?
- Que haja liberdade de expressão! Para além disso, concretizar algumas ações, como seja fechar o PDM. Melhorar o nosso centro de saúde, onde o ar condicionado não trabalha há mais de 25 anos. Temos um miradouro que custou um milhão de euros e que está abandonado.
"Um dos médico que por aqui passou foi embora porque lhe embargaram a obra na casa que comprou a Atalaia
- Reconhece que a Câmara tem feito um esforço para assegurar médicos em Gavião?
- Não vejo como. Um dos últimos médicos que por aqui passou foi embora porque lhe embargaram a obra na casa que comprou na Atalaia.
- Não vê mérito em algumas obras concretizadas, como seja a eco laguna?
- Foi feita com dinheiro do PRR. Quero ver é a imaginação dos presidentes da funcionar depois disto acabar.
- Bem, este executivo deixa quase 3 milhões no cofre...
- Mas não foi pela sua bela gestão, é dinheiro dos painéis solares que foram colocados em solos aráveis e deviam ter ido para outro tipo de solos.
"Gavião é uma zona de exclusão"
- Como olha para a perda demográfica do concelho?
- Gavião é uma zona de exclusão. Domina o bandeirismo. Quem não andar com a bandeira na mão não tem emprego e é por isso que muitos jovens saem. O concelho só tem dois grandes empregadores: a Câmara e a Santa Casa.
- Reconhece algum mérito à Câmara na captação de investimento industrial?
- Nada. Urge divulgar as condições que temos para captar investimento. O que não foi feito.
- Sobre a plataforma logística falhada, o que pode dizer?
- Não houve pulso da autarquia. Era um projeto que ia criar 300 empregos diretos e talvez o triplo de indiretos.
"A mobilidade neste concelho é uma desgraça"
- Quanto à mobilidade...
- Uma desgraça. Um autocarro por dia para Portalegre, estação ferroviária de Belver sem serviço, quem chega ou vai para lá tem de chamar um táxi.
- Reconhece méritos em algum presidente socialista da nossa autarquia?
- Nenhum deles me agradou. Mas gostaria de falar de um socialista que nunca deixava de falar para pedir coisas para a sua terra: o Manuel Lérias. Um político ambicioso e que tudo fazia pela Comenda. Um exemplo.
- O que pode dizer de António Severino?
- É um rapaz da terra, não o quero desconsiderar. Não quero ir mais longe, só quero que não me pisem os calos. Respeito todos os candidatos mas não mexam muito na fervura...
