Monte do Braçal está a pedir uma prospecção arqueológica

 


O Monte do Braçal, que encosta à Ribeira da Venda, é hoje um lugar abandonado onde o mato cresce e tudo vai escondendo. Um lugar marcado por grandes afloramentos graníticos, sendo o granito a matéria-prima do fenómeno das sepulturas escavadas na rocha, um tempo anterior ao sepultamento no interior das igrejas ou à volta destas.

A informação que tínhamos, e que consta do Atlas do Património, diz-nos que no sítio da antiga casa do monte havia materiais de época romana e que bem perto estão duas sepulturas escavadas na rocha.

Ora, diz Luís Guedelha, que trabalhou nesse monte, que não são duas sepulturas mas cinco!

"Duas juntinhas, uma delas com a parede para fora em granito com a grossura[ bem fina ] tipo aquele  cartão de embalagem de frigorífico... Estão juntas num declive para uma pequena  ribeira que vai dar à  ribeira principal do lado esquerdo  do Monte e perto deste", informa 

"Junto das sepulturas, naquela altura, havia uma acácia, que era ponto de referência. As outras três sepulturas, uma delas de criança perto  de uma de adulto e outra de adulto, mas um pouco mais  afastada destas duas, ficam as três mais afastadas das outras duas da acácia não  para o lado monte mas sim para o lado esquerdo, para onde a água corre via Açudaça...", acrescenta.

"Estive lá com amigos  uns anos atrás para lhes indicar onde ...mas o terreno não  foi limpo muitos e muitos anos ... o sítio  mete medo ...muito ,muito mato... caminhos conhecidos desapareceram assim como grandes sobreiros e os pontos principais de referência... as pequenas ribeiras entupiram e desapareceram, é só mato e salgueiros", são ainda palavras suas.

Luís Guedelha tinha 16 anos quando ali trabalhou,  limpando as ribeiras, roçando o mato, tirando falca, "enrreidando" redes com cortiça, carregando camionetes e reboques com as tais  redes de cortiça e carregando reboques dos tratores com  a madeira liberta da cortiça ou falca  do corte de sobreiros ou da limpeza destes. Também carregoy reboques com o mato cortado das limpezas do terreno,  cujo mato ia  para a cama das vacas ou das cabras  os currais das Polvorosas ou do Vale de Grou. Para além de ali ter colhido azeitona, carregando ainda muita água "para matar a sede ao pessoal com o tal grande barril ou o cântaro de barro esse um poucochinho mais pequeno". Também ali ceifou, com ranchos de homens e mulheres, cevada ,centeio e algum trigo...

Luís Guedelha assegura que uma lage que servia de tampa de uma das sepulturas, segundo o seu avô João Brites, "está na lareira da casa da  minha avó Maria da Graça, levaram-na para lá quando ela estava a construir a casa e a sepultura foi descoberta porque uma raíz duma sobreira que esse meu tio e outros homens da Comenda estavam a arrancar levantou a tampa dum túmulo e segundo ele estava lá um tipo com uma dentadura melhor que a dele".

A freguesia de Comenda tem um conjunto significativo de sepulturas escavadas que bem merecia um estudo científico e uma prospecção feita por arqueólogos. Já vimos cinco e a confirmar-me esta informação do Luís a elas se somam outras tantas, ou seja, um total de dez. Significativo quanto a um povoamento antigo (séculos 8-11) deste nosso território. Um património que a Comenda devia valorizar e que nenhuma outra freguesia do concelho de Gavião tem.