Adeus à 'Casa da Sopa', o nosso primeiro lar na Comenda

 


A 'Casa da Sopa´ já não é nossa!

Quando aqui chegamos, em outubro de 2021, a nossa primeira casa foi uma pequena habitação de rés-do-chão e primeiro andar no Largo Doutor Cerejeira, uma casa que tinha pertencido ao senhor Charinha. Nessa altura estávamos ainda a tentar perceber se a Comenda seria o 'lugar onde' para nos fixarmos na nossa reforma. Rapidamente concluímos que sim, sobretudo quando a Ana Basílio descobriu um grande terreno na rua Dr. Freitas Martins.

O terreno estava assim, com a casa de habitação cercada por um muro, sem casa de banho, apenas se aproveitando as paredes robustas e a cobertura. O anexo ao lado estava em quase ruína.


A obra começou no início de 2022, a cargo da equipa de José 'Garrincha' Silva, um empreiteiro local. Sob o seu comando e também com a sua mão de obra, aqui trabalharam o Luís Silva, o Zezinho e o Sérgio Pires. Um quarteto fantástico. Os projetos de arquitetura e de engenharia foram também produzidos por gente da terra, a Rita e a Vera, respetivamente. O portão veio da casa Camões, em Nisa, a pintura foi obra do senhor Vítor, de Tolosa, as janelas foram produzidas pela Alperfil (de Nisa) e a cozinha da Mobiladora Nisense. A instalação elétrica esteve a cargo do Ricardo, um excelente técnico de Envendos. Ou seja, o capital investido ficou na região.

Foi muita lavoura, uma lavoura que passou numa segunda fase pela reconversão do palheiro também numa zona habitável, com dois quartos e casa de banho. A foto reporta um dos momentos da fase mais caótica de uma obra que ficou pronta apenas no final de 2022, embora tivéssemos passado a habitar a casa principal no princípio de outubro. Contas feitas, não chegamos a estar dois anos na 'Casa da Sopa', uma casa cuja parte da história já aqui contamos mas que podemos resumir.

Esta casa pertenceu à família de Fernando Branco - conforme contou Abílio Simões no seu livro 'Recordações do Alentejo - Comenda da minha infância'. Uma familia que quando habitava esta casa, nas primeiras décadas do século XX, se dedicava a negociar lenha e carvão. Fernando Branco abalou um dia para se estabelecer no Entroncamento, Tomar e Lisboa, ainda no negócio das carvoarias, passando depois para a construção civil, onde foi empreiteiro de muito sucesso, com obras em várias cidades portuguesas.

Esta casa foi também a Casa da Sopa durante um par de anos, servindo-se aí uma sopa sempre reforçada aos meninos mais pobres que frequentavam a escola da Comenda, até o serviço passar para a cave do salão paroquial.

A casa da Rua Dr. Freitas Martins passou para a posse de Laura Gueifão e assim chegou às nossas mãos. Agora, passará a ter novos donos.

Quem a viu e quem a vê.

É com nostalgia que nos despedimos deste espaço mas tal foi uma opção pensada. Esta era casa a mais para nós e por isso nos mudamos para duas casas ao lado, depois de converter em habitação a antiga Taberna do Ti Albino - mais um investimento que fizemos de novo na economia local. Foi uma mudança do 16 para o 22.

Na parte que me toca, mudar de casa é quase como mudar de camisola. Correndo o risco de falhar um ou outra, comecei por viver numa casa na rua Nogueira Pinto, em Leça da Palmeira, e na mesma localidade vivi em mais duas casas na minha infância, na rua Moinho de Vento e na Travessa dos Bons Amigos. Mais tarde, viria a viver também num apartamento na rua Tullins Fures, na parte nova de Leça da Palmeira.

Mas também vivi no Freixieiro, na rua Alfredo Cunha (já em Matosinhos), na rua 1.º de maio e, ainda em Matosinhos, na rua D. Nuno Álvares Pereira, para mais tarde assentar arraiais na Avenida D. Afonso Henriques, junto à rotunda do metro. Por breves dias vivi também na rua Afonso Cordeiro.

Entretanto, fui trabalhar para Lisboa e comecei por viver num quarto da emblemática rua das Flores, depois de um par de meses a viver na casa de Armando Santos, na Cruz de Pau. A minha primeira casa a sério na capital foi no Beco da Mó, junto à rua da Escolas Gerais, soube só há poucos meses junto ao restaurante 'Carvoeiro', que era de gente da Comenda. Nessa zona, vivi ainda na Cruz de Santa Helena, posto o que fui ver como paravam as modas no Intendente, mais precisamente na Travessa do Forno aos Anjos. Numa nova passagem pela grande metrópole, vivi ainda em Paços de Arcos e na Parede (aqui a um passo da praia).

De regresso ao norte, fui para Vila Nova de Gaia, mais precisamente para a freguesia de Vilar de Andorinho, para uma casa à maneira na Travessa da Fontinha. Já do outro lado do rio, morei na Praça da Alegria, com vistas para a ponte Luis I e aí puseram-me as malas à porta e tive de ir viver para o Freixieiro de novo, na oestrada nacional 107 e não 109 (fiquei a saber que o Pascoal Sousa é leitor de águas profundas). Foi aí que se seguiu a casa de Tullins Fures e a seguir os meus pais cederam-me uma caseta na rua da Guarda, em Perafita, onde foi produzida a Francisca.


A Perafita iria voltar rapidamente para viver numa bela casa na rua da Aldeia Nova, de 2006 a 2021, o que foi um recorde. A praia do Cabo do Mundo ficava a um tiro de besta.

Seguiu-se, como sabem, a Comenda, onde vou mantendo a velha tradição e já vou na terceira casa. Falta apenas saber qual a que se segue.

Importa dizer, a fechar, que a nova Casa da Sopa tem uma autora: a minha mulher Ana Basílio, cujo empreendedorismo e bom gosto transformaram tudo como num passo de magia.

A vida é feita de mudança, está visto.