A Casa da Sopa da Comenda

 


Acabo de ler 'Comenda com Gente', a fotobiografia assinada por Jorge Branco, com a colaboração do seu filho Ricardo e de Miguel Porfírio.

Do livro irei falar mais tarde mas desde já fica uma nota: lê-se num fôlego.

Aqui estou a propósito apenas desta casa que veem na imagem, uma casa que iremos reconstruir, na rua Dr. Freitas Martins, e onde iremos passar grande parte do nosso tempo de aposentadoria ativa.

A casa pertencia a João Gueifão, um comendense muito conhecido, que foi proprietário da mercearia que quase se vê nesta imagem.

No livro de Jorge Branco, Manuel Lourenço Monteiro revela que esta casa foi a 'Casa da Sopa', onde, antes da sua transferência para a Casa do Povo, era fornecida precisamente uma sopa às crianças da escola, sendo cozinheira a senhora Antónia Galinha. A Casa Rebelo assegurava a maior parte do abastecimento numa altura em que ainda não havia o suplemento de queijo flamengo vindo dos Estados Unidos para ajuda aos países subdesenvolvidos.

Esta casa teria possivelmente uma 'criação' de animais tendo em conta as estruturas anexas e o fato de estar murada no seu interior, ao que tudo indica para proteger a casa principal da presença de animais.

Quem tiver mais informações, agradeço, é sempre importante conhecermos a história das casas e dos lugares que escolhemos como nossos.

Obrigado.



Sobre esta casa diz o Jorge Graça:

Vivi sempre defronte à sua nova habitação e isto a partir de 1953, nesse tempo nunca foi a suposta Casa da Sopa, só se foi em data anterior a 1953. O espaço que agora está a limpar, o quintal, foi sempre um galinheiro ao ar livre, as aves viviam em pura liberdade o portão era aberto uma vez por dia para levar milho e algumas couves para as alimentar, umas vezes era a Laura outras vezes o João Gueifão . A família Gueifão dedicava-se toda ela à loja que ficava quase em frente da sua habitação, vendia de tudo, às quintas feiras era dia de matança dos porcos e de carne fresca na loja, os dias seguintes faziam-se os amanhos e tratamentos das carnes, era a loja de maior importância na Comenda, pois abastecia grande parte da população. Com a Morte dos pais, da Ti Leonilde e do Ti Gueifão tudo mudou, com o João Gueifão a loja passou para Minimercado, com a morte deste encerrou-se uma capítulo da história da Comenda. A família Gueifão com a sua loja foi um ponto de confluência de muita gente da nossa terra e marcou algumas gerações, eram Gente boa, séria e dedicada, Gente que nos fiava e confiava na Gente.

E acrescenta Jorge Graça:

Antes de ser Rua Freitas Martins, era a Rua da Fonte e também era a rua mais percorrida do Castelo (era assim que os Comendenses tratavam nesse tempo a sua terra... O Castelo). Era um vai e vem de pessoas, com cântaros e potes à cabeça de puro equilíbrio, sobretudo as mulheres, os homens vinham com as mulas e também com outros animais iam todos à fonte, abastecimento doméstico e também dar de beber aos animais, no verão este ir e vir entrava pelo noite dentro, as pessoas sentadas nas soleiras das portas iam dando a salvação.... Boa noite, boa noite.... Tempos idos que terminaram com esta ligação à nossa Fonte, abrir a torneira e ter ela, a água, a correr dentro de casa facilitou tudo, mas tornou a nossa rua mais fria e deserta de gente.


Entretanto, no dia 9 de março de 2022, como resultado da obra de demolição dos muros que isolavam a casa do terreno surgiu este prato de sopa. Não sei se fazia parte do espólio da antiga Casa da Sopa mas aqui fica o registo.

Esta casa agora pertence a Ana Maria Basílio, natural de Leça da Palmeira, Matosinhos.