A mercearia de João Gueifão (por Manuel Porfírio)

Um texto enviado gentilmente pelo professor Manuel Porfírio:


Vou falar-vos de memórias, mais uma vez, da minha Comenda do Norte Alentejano.

Vou contar a história, então:


Anos de mil novecentos e sessenta, no remanso alentejano, entre o Suão e as invernias.

- Vai à Srª Leonilde buscar cem gramas de manteiga, Manel… toma lá o dinheiro.

Rua fora, não muito longe, cantando o recado para não esquecer, entro na Loja (chamava-se assim a mercearia do Sr. João Gueifão) e espero (com o pedido cantarolado na mente).


É chegada a minha vez:

Ó Srª Leonilde, queria, se faz favor, cem gramas de manteiga…

Ó João, avia aí cem gramas de manteiga ó rapaz.

Num papel meticulosamente branco, o João vai à lata da manteiga, tira a tampa e com uma colher de madeira arranca, do conteúdo, um naco da dita que coloca no papel e este em cima da balança…


Sou do tempo em que, na minha aldeia, na mercearia do Sr. Gueifão, a manteiga, o sabão, a marmelada, as bolachas, enfim, eram a peso…para além dos enchidos de porco que fumavam na lareira de dentro da casa e quer eram a especialidade do Norte Alentejano.

Era (é) uma “romaria” à porta da Mercearia do Gueifão para comprar chouriços e demais…

Sou do tempo de comprar dois tostões de rebuçados que o meu pai me dava nos domingos, na taverna do Ti Albino, de jogar matraquilhos na sala de dentro do Café do Sr. Flores e de ver o Bonanza tardes inteiras na sala de fora do Café do Sr. Silvestre.


Uma vez por outra comprava um chupa embrulhado em papel vegetal no Café Central do meu tio Domingos Tomé e da minha tia Josefa Porfírio.

Quando o calor apertava e o carrinho do Sr. Álvaro se fazia anunciar, com a campainha de bicicleta, comprava um gelado de cone de baunilha, para mim a suprema maravilha dos doces frescos…


Voltando à Loja do Sr Gueifão…

Um dos filhos, o João organiza, ainda hoje, com o mesmo primor e a mesma qualidade de então, como se fosse uma obrigação ou uma promessa de família, a mesma “superfície comercial” de que nós comendenses nos orgulhamos e onde encontramos de tudo…

Ó João, tens pavio para candeeiros antigos, não encontro em lado nenhum?!!

É pá, é o que mais para aí tenho!

A minha homenagem ao João Gueifão, merceeiro da minha aldeia que mantém a tradição…

 

Manuel Porfírio

2014


JORGE GRAÇA COMENTOU;


Sem querer entrar em polémica, a loja da minha rua era a loja da Ti Leonilde, era ela e a Laura que que geriam a loja. O pai o Ti Gueifão o Fernando e o João eram a retaguarda eram eles que asseguravam as matanças de Quintas Feiras a carne fresca e a salgadeira da semana. A loja só começa vá ter o nome da loja do Gueifão quando o João Gueifão assume o negócio e o Fernando Gueifão assume o negócio da Pensão Senhorinha. O Café Silvestre é muito posterior ao Bonanza, isso era no tempo do Café Alentejano tinha a rapaziada  nessa altura uns 9 ou 10 anos isso foi pouco depois de 1960. O Silvestre toma conta do Café muito depois, o café tem os seus melhores anos na década 70/80.