A Ribeira que é de Vale de Carneiros, da Venda, do Braçal e da Salgueira

 

As ribeiras por norma são 'polígamas' nos seus nomes e conforme passam aqui e ali vão mudando de nome como um ator de Hollywood muda de mulher ou como um homem  - ou mulher - deve mudar de cuecas.

A Ribeira da Venda, ou ribeiro, que para o caso estes cursos de água também são liberais, será da Venda porque no local do atual parque de merendas houve precisamente um local de venda ou de trocas comerciais. Terá ali existido mesmo um local especializado em ferragens para animais de carga, para além de ali perto, no Alto das Bicas, ter existido povoação antiga (Vila Franca) e com igreja cujos alicerces, que ainda se viam há meio século, foram exterminados pela surriba dos eucaliptos. Coloca-se a hipótese de em época romana ter existido ali uma estação de muda de animais ou de pousada.

Aqui a vemos no pontão de acesso, quem vem do Vale da Feiteira, para o núcleo residencial da Herdade das Polvorosas. A correr bem, apesar dos obstáculos que tem pelo caminho até aqui chegar, sobretudo o açude do parque de merendas mas também muita retenção a montante deste local.

Atente-se que num recente relatório para avaliar impactos ambientais relativos à central solar do Polvorão esta nossa ribeira surge referenciada como Ribeira da Salgueira. Como se pode ver, uma linha de água com 20,7 quilómetros de extensão desde que ganha expressão ali para os lados de Arez até confluir no Sôr.

Numa carta militar de 1942 que possuímos, esta ribeira ao entrar na freguesia de Comenda começa por ser Ribeira da Venda e passa para Ribeira do Braçal, recebendo as águas, de montante para jusante, dos ribeiros do Pereiro (ainda no concelho de Nisa), Ribeira do Perlim (a correr a norte do marco geodésico da Murteira [284 metros]), da Ribeira da Ferraria e da Ribeira da Cabeça Cimeira, entre outros pequenos cursos de água que não são referenciados com nome devido à sua pequena dimensão. Na mesma carta mas 1998, a Ribeira da Venda continua a ser como tal no Braçal. Em carta do mesmo ano, correspondente a levantamento nos anos anteriores, a Ribeira da Venda passa a ser Ribeira da Salgueira quando encontra a Ribeira do Polvorão, precisamente um pouco a jusante da zona residencial da Herdade das Polvorosas, ou seja, do local reproduzido nas fotos e nos vídeos.

Uma ribeira que em alguma documentação também surge referenciada como Ribeira de Vale de Carneiros, provavelmente destes nomes o mais antigo.


A partir daqui, a ribeira corre em vales por vezes extensos e propícios a várias culturas, sob a guarda de ronda de diversos vales por onde correm pequenos ribeiros (Vale de Carvalho, Vale das Servas, Vale de Mantiva, Vale Longo..). Até mergulhar no Sôr tendo pela frente, já no concelho do Crato, o Cabeço de Águia [207 metros].

Tudo isto só para dizer que a perceção que muitas vezes temos da paisagem e dos seus pormenores é sempre muito limitada. Para mim, até conhecer estes campos junto às Polvorosas, a Ribeira da Venda - que também corre com largura de passagem na zona do Monte das Ferrarias (a montante do parque de merendas), era um ribeiro encaixado no matagal, de difícil acesso. Continua a ser em alguns pontos mas nem sempre é assim. Ou seja, é uma ribeira pequena mas polissémica, muitas vezes correndo mansa em paisagem com poucos obstáculos e plana.