Este belo trabalho em azulejo azul pode ser vista na estação ferroviária de Fronteira, hoje fora de serviço, como muitas do Alto Alentejo, enquanto o país prepara uma injeção de mil milhões (contas por baixo) para a alta velocidade que vai servir sobretudo Lisboa e o Porto.
Mas vem tudo isto a propósito não do desequilíbrio litoral-interior mas sim do trabalho de extração da cortiça, um sector onde Portugal continua a ser líder mundial e que por cá proporciona muito trabalho sobretudo sazonal. Um trabalho duro já a entrar no verão e cuja temporada terminou há poucos dias pois não se tira cortiça quando a canícula cai sobre este território.
Durante os últimos meses vi os nossos tiradores sobretudo chegar do trabalho, pela hora do almoço, depois de terem começado a usar machados e machadinhas ainda com o sol a nascer.
Este é um trabalho de força, resistência e técnica que vai passando gerações. A Comenda sabe bem o que isso é e os seus homens continuam uma arte ancestral.
Fica a minha sincera homenagem a todos aqueles que cumpriram como muito suor mais uma temporada a tirar o casaco a sobreiros.
PS- Atentem que disse tiradores e não cortadores pois a cortiça não se corta, tira-se com todo o cuidado para que nove anos depois o sobreiro possa entregar mais um prémio.
JORGE GRAÇA COMENTOU:
Os atiradores de cortiça e tal como os carvoeiros da Comenda eram dos melhores do país. Vinha gente de bem longe contratar estes trabalhadores rurais.
Para os atiradores de cortiça havia os machados e as machadinhas, as machadinhas eram como uma meia lua nos gumes e terminavam em pontas afiadas muito diferentes dos machados e com têmperas diferentes para não partirem o que acontecia muito por serem mais frágeis. Todos os dias tinha de ser afiadas com a pedra, o que levava algum tempo e era necessário para fazerem um corte perfeito na cortiça.
LUÍS GUEDELHA ACRESCENTA
Não esquecer a ponta do cabo das machadas, tipo cunha, pois era com o cabo que se descolava ou descola a cortiça do sobreiro.