Sem nos atrevermos a sentenciar seja o que for, regressamos hoje às origens do povoamento da nossa freguesia de Comenda. Para recordar que esta "comenda" esteve até ao início da Idade Moderna (século XVI) agregada à chamada Comenda de Belver, uma das comendas do Priorado do Crato, talvez a sua mais extensa.
Era Belver que nessa época "capitaneava" este nosso território, indiferente à fratura do Tejo, um rio nessa altura sem a altura de água que a barragem de Belver hoje proporciona mas mais selvagem e menos previsível. Mas nem por isso inviabilizando as comunicações, via travessia por barca, entre as duas margens, tal como está comprovado documentalmente sobre vários pontos de travessia, do Alamal ao lugar do Batel, este último já perto do limite atual do concelho de Gavião com o de Nisa.
Tal como refere o numeramento do reino de 1527, a dita Comenda de Belver contava com 57 moradores em casas dispersas. Ou seja, em princípio não haveria um povoamento minimamente concentrado, embora possamos admitir que por essa altura seria na chamada Vila Franca (na atual Ribeira da Venda) ou no Vale do Grou que se concentrariam mais fogos - mas nunca muitos. Note-se que nessa mesma altura Gavião concentrava apenas 32 moradores no local da vila e 69 em casas dispersas.
Seguimos agora o que escreveu Sérgio Luís de Carvalho, in "Portugal na Idade Média - uma viagem pelos primeiros 400 anos da nossa história", para recuarmos de novo ao tempo anterior ao numeramento atrás referida. Diz este autor que nessa tempo Portugal era "escassamente povoado, com vilórias amiúde modestas". Gavião seria mesmo uma das mais modestas (só recebeu foral no século XVI). Em 1347, Portugal teria um milhão e meio de habitantes e não tardaria muito a sofrer uma grande sangria demográfica devido à Peste Negra, "demorando cerca de 150 anos para repor os quantitativos anteriores à peste". O que vem de encontro à ideia de um povoamento muito escasso neste nosso território no final da Idade Média. Onde parece claro, hoje, que no sítio da atual aldeia de Comenda, sede de freguesia, também dita Castelo Cernado, dificilmente haveria um castelo pois a existência de castelos originava sempre um povoamento mais concentrado junto deste. Mas esse é outro tema a que provavelmente voltaremos.
Por ora, interessa reforçar a ideia de que o povoamento do nosso território apenas se consolidou nos séculos XVIII e XIX, com um pico significativo na primeira metade do século XX, quando povoações como Comenda/Castelo Cernado se afirmaram no contexto concelhio, superando a freguesia a marca dos 2 mil habitantes nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado - em 2021, a freguesia tinha 692 habitantes dispersos pela sede da freguesia, Vale da Feiteira, Vale de S. João, Ferraria e Vale de Junco.
O Alentejo sempre foi uma região de povoamento concentrada em alguns núcleos identificados - Portalegre, Elvas, Estremoz, Évora...- e marcado por grandes extensões despovoadas e aqui e ali habitadas por pequenos grupos de pessoas. Características que ainda permanecem, por contraste com um noroeste onde os núcleos populacionais praticamente estão colados uns aos outros.