Este grupo de comendenses que aqui vêem sentados à mesa falam com o repórter Carlos Benigno da Cruz, jornalista do 'Diário Popular'. A foto é de Miranda Castelo e foi conseguida em plena festa da Comenda, que na altura decorria no largo Doutor Cerejeira, junto ao jardim Manuel de Jesus Duarte. Como dá para perceber, a entrevista coletiva decorreu perto do palco.
A reportagem saiu no dia 6 de setembro de 1974, ou seja, poucos meses depois da revolução de abril.
O povo da Comenda não esperou muito para reinvindicar os baldios que foram da comunidade durante séculos e que foram parar à posse de privados.
Estamos a falar, obviamente, dos baldios da Costa.
O que aconteceu na Comenda ocorreu noutros sítios de Portugal e até do concelho de Gavião mas o povo da Comenda acumulou um histórico de luta pelo que julgava ser um direito adquirido.
As reproduções do DP são de Célia Matos, que gentilmente as passou para este espaço.
São um documento relevante para a história deste longo processo e esta entrevista coletiva antecedeu uma grande manifestação de comendenses em S. Bento.
Foram protagonistas da entrevista Manuel Chamiço, Manuel Alves da Silva, José Bernardino e José Flores.
Os 750 hectares de baldios da Costa - e vamos resumir agora a história - foram retirados ao povo da Comenda em 1938, depois de largos anos de usufruto popular. Um direito concedido pelo foram manuelino de 1518 e mais tarde reiterado por D. João VI. Até que em 1837 o Estado vendeu tudo em arrematação pública a Luís Teixeira Sampaio, ação de imediato contestada e reprimido com força bruta das autoridades. O proprietário mais tarde vendeu o que tinha, em 1883, à casa Henry Bucknall & Sons, a chamada Casa Inglesa, dona da Herdade das Polvorosas.
O povo explorava esses baldios durante nove meses do anos e, apesar do que aconteceu no século XIX, continuou a explorar algumas malhadas até 1937, quando a Casa Inglesa interpos uma ação judicial contra oito famílias que exploravam as Costas.
A GNR resolveu a contenda e alguns banquetes oferecidos aos poderosos de Lisboa, entre os quais o almirante Américo Tomás, ajudaram a colocar uma pedra sobre os direitos adquiridos pelo povo.
As Costas viriam ainda passar para a posse da Casa Barreira e hoje estão a posse de um fundo de investimento.
Os baldios do povo, esses, há muito tempo baldaram-se.