Hoje voltamos a falar da Comenda e de arqueologia.
A imagem que estão a ver é de uma anta que provavelmente já não existe no território da freguesia de Comenda. A imagem foi-nos cedida por Lúcio Rente, um dos entusiastas da Arqueologia na nossa terra e que ainda ontem, no facebook, se interrogava sobre o desinteresse de muitos nas ações comunitárias.
A Comenda já teve a sua Associação de Defesa Arquelógica Etnográfica e Ambiental, à qual pertenceram, entre outros, Filipe Tapadas e Luís Vieira. Este último deixou à Comenda um conjunto de estudos sobre o património da freguesia e também sobre a história da mesma, é certo que nem sempre de forma muito organizada mas de grande valor - tenho-os aqui à mão e considero preciosos esses apontamentos.
Foi neles que colhi a notícia de que a associação já referida foi à assembleia de freguesia de Comenda, em setembro de 1997, pedir a cedência das antigas instalações da junta para aí se instalar. A documentação indica que o processo terá tido luz verde mas a verdade é que hoje nada existe.
Esta associação tinha por objetivos "descobrir, preservar e divulgar o património arqueológico, etnográfico e ecológico da freguesia de Comenda, promovendo o turismo através da divulgação das suas ações".
A Arqueologia não é propriamente o mais forte do concelho de Gavião, o concelho do Alto Alentejo com menos trabalho feito em termos de prospeção e de trabalho de campo.
Gavião tem registados um sítio arqueológico por 49 quilómetros quadrados como resultado dessa quase inércia. Fronteira, por exemplo, tem um sítio arqueológico por 0,4 quilómetros quadrados. O que não espanta. Escavo há mais de dez anos no concelho de Fronteira, com o apoio do município local, e conheço bem o trabalho que o arqueólogo André Carneiro aí realiza há mais de 20 anos. Foi como técnico do município, aliás, que começou o seu percurso profissional, sendo hoje um dos professores mais credenciados de arqueologia da Universidade de Évora, com um conjunto impressionante de trabalhos e de publicações, em especial no que toca à villa romana da Horta da Torre.
Perdoem-me se mudei de escala subitamente mas aqui vim apenas para recordar o que já se fez por aqui e o que não se faz a nível municipal. Gavião pode ser o concelho mais "atrasado" na Arqueologia mas este "atraso" também pode ser visto como uma vantagem, na certeza de que há muito trabalho para fazer - no concelho e na nossa freguesia. Um concelho que aposta no turismo não pode deixar de apostar no seu património. É dos livros.
A Comenda, por sua vez, devia começar a pensar em reunir parte do espólio arqueológico que muitos comendenses já têm para pelo menos uma exposição temporária. Na parte que me toca, se assim quiserem, estou disponível para elaborar um poster sobre as sete sepulturas escavadas na rocha registadas no território da freguesia - um volume que não torna este caso excecional mas que é digno de nota.