Uma sepultura de lajes e uma anta em território do Vale da Feiteira



Lúcio Rente, um dos entusiastas da arqueologia que participou há alguns anos em prospeções no nosso território, fez-nos chegar esta foto de uma anta parcialmente destruída pelo trator na Costa, o antigo baldio que tanto deu que falar por aqui.

Não se trata de uma anta/dólmen de grande porte e que estaria coberta, como normalmente, por uma mamoa, isto é, um monte de terra.

Não sabemos se esta anta permanece no lugar - dificilmente assim será - mas aqui fica o registo para uma futura carta arqueológica de Gavião, embora falte aqui a geo referenciação deste túmulo de época neolítica (quando ainda não se trabalhavam os metais, há mais de três mil anos).

Foto de CARLOS ALMEIDA

Não há registo por aqui de qualquer estrutura desta magnitude no Portal do Arqueólogo embora nos concelhos vizinhos de Nisa e do Crato proliferem exemplos deste tipo, com destaque para a anta de S Gens I, que até é património nacional.

Anta do Penedo Gordo, em Torre Fundeira, Belver

No concelho de Gavião temos o registo de três antas a nascente da vila de Belver, quase no limite com o concelho de Mação, e de uma mamoa perto do Outeiro, aqui no limite poente também com o concelho de Mação. A Anta do Penedo Gordo, perto de Torre Fundeira, é a que se destaca. Belver é claramente a freguesia de Gavião com mais sítios arqueológicos identificados, a que não é alheio o facto de ter sido ali que Rogério Carvalho centrou os seus trabalhos na década de 80. Não podemos esquecer que Belver é também a terra natal de José Luís Cardoso, porventura o maior especialista português em Paleolítico.

De notar que em meados do século XX, o casal Leisner, a quem muito se deve o levantamento de estações megalíticas no nosso território, referiu nos seus relatórios que existia por aqui um elevado grau de destruição de antas e que apenas uma se encontrava em bom estado de conservação, precisamente perto do Vale da Feiteira. Tudo aponta para que fosse esta.


Para além desta anta, o grupo de então jovens comendenses identificou esta sepultura de lajes, também nos antigos baldios da Costa, perto da ribeira de Sor, que não sabemos se ainda se encontra como a vemos aqui. 

Nos seus apontamentos, Luís Vieira situa-a no Vale do Pêro Melhor, na margem direita do ribeiro com o mesmo nome, a cerca de 150 metros da confluência deste ribeiro com o Sor. É uma sepultura que mede um pouco mais de dois metros de comprimento e que foi descoberta em 16 de julho de 1994 totalmente soterrada e danificada pela passagem de máquinas agrícolas (o arado moderno pode levantar e destruir estruturas a meio metro de profundidade).

Luís Vieira, João Rosa Castanho e Manuel Rosa da Silva registaram este moimento, guiados por Francisco Longo.

Na minha opinião, podemos estar perante uma sepultura que tanto pode ser associada ao período romano (a prática da inumação acompanhava a da incineração) como a um período posterior ao da moda das sepulturas escavadas na rocha e com possibilidade de estar associada a um pequeno templo. São apenas indícios e por aqui nos ficamos, prometendo uma prospeção no local.