Como fugiu da zona industrial de Comenda um investimento de 5 milhões de euros



Já passaram mais de duas décadas desde a inauguração, ainda no mandato de Jorge Martins, da zona industrial da Comenda. Um investimento, suportado essencialmente por fundos comunitários, que rondou os 200 mil euros e que implicou a infraestruturação do terreno (hoje em estado de degradação).

Neste entretanto, a zona industrial de Gavião foi sendo completada com a instalação de empresas e hoje está quase na sua máxima capacidade. Há poucos meses, o executivo camarária anunciou a criação de uma nova zona industrial, perto da Atalaia, tendo comprado os terrenos para esse efeito. Esta semana, em reunião de Câmara que aqui já reportamos, foi anunciado que esses terrenos seriam colocados em hasta pública, com o presidente da Câmara a levantar um manto de segredo sobre o que ali vai acontecer.

Mas não é difícil adivinhar a instalação, naquele local, de uma grande unidade industrial, num verdadeiro jackpot que de uma só assentada irá preencher por completo uma segunda zona industrial do concelho de Gavião.

Isto quando continuamos sem notícias sobre a anunciada plataforma logística de Domingos daVinha, em Belver, e, claro, quando continuamos com a zona industrial da Comenda a ser um enorme “buraco”.

Não se exclui aqui o desejo também da autarquia de dar vida à zona industrial da Comenda – onde um dos lotes requisitados acaba de ser revertido por falta de interesse do potencial investidor – mas não deixa de ser, no mínimo, extraordinário que um concelho com uma zona industrial preparada para tal veja nascer outros zonas industriais que, numa espécie de passo de mágica, quando dão o primeiro berro já estão completas.

Importa também referir que para a zona industrial de Comenda já esteve preparado um significativo investimento, apresentado, em 2021, ainda em tempo de pandemiai.

O investimento chegou apresentado pelo vereador Vítor Filipe, eleito do PSD, e dava conta da intenção de uma empresária local, em associação com investidores estrangeiros, de criar uma empresa na área do cultivo de cannabis para fins medicinais, tendo sido solicitada a apreciação do projeto e colocado em cima da mesa um eventual apoio por parte da Câmara Municipal de Gavião através da cedência de terrenos.

A empresa ‘Jangada d’Enigmas’ apresentava licença do INFARMED para desenvolver o parque de plantação em estufas de cannabis, numa área de plantação indoor de 2.500 metros quadrados e com uma área de plantação outdoor de 20 mil metros quadrados, o que implicaria o arrendamento ou compra de terrenos na freguesia. A empresa propunha fazer também uma área de estufas de 20 mil metros quadrados.

Dá para perceber que seria algo com muita escala e capaz de gerar também muitos postos de trabalho.

Aliás, a empresa apresentava no seu caderno de encargos a fixação, através do emprego, de pessoas já residentes no concelho e até atrair novos residentes, para além de criar empresas interligadas com a empresa mãe.

O investimento seria de 5 milhões de euros e esta empresa propunha-se, nos três primeiros anos, construir uma área coberta de 2.500 metros quadrados.

O projeto esbarrou em alguma burocracia e na lentidão de uma resposta urgente para um projeto que carecia de celeridade para começar a ser desenvolvido, segundo fontes por nós consultadas.



O Loteamento Industrial de Castelo Cernado-Comenda é constituído por dez lotes (com o valor de um euro por metro quadrado), sendo nove destinados a indústria. comércio e serviços e o restante para a instalação de um posto de combustíveis. Uma situação que teria de ser revista face à dimensão do projeto apresentado.

A verdade é que não houve mais notícias deste investimento e a realidade vai nua e continua crua, com uma zona industrial a ser ultrapassada pela direita e esquerda e a caminho da degradação definitiva.