Conhecido popularmente como Largo do Arneiro, este lugar do Vale da Feiteira tem hoje o nome de José Adriano Pequito Rebelo. Mas na década de 60 do século passado este lugar foi palco de uma acesa disputa entre este último, o povo do Vale da Feiteira e as autoridades locais.
Tudo porque o proprietário das herdades do Vale da Rabaça e do Polvorão, herdades que herdou da sua irmã Delfina Pequito Rebelo, reclamava o lugar do Arneiro como sua propriedade.A disputa entre Pequito Rebelo e a Câmara Municipal de Gavião e a Junta de Freguesia de Comenda andou pelos tribunais e até justificou duas publicação de Pequito Rebelo, em 1963, com detalhes do processo, publicações que a mão amiga de Duarte Nuno Tapadas fez chegar às nossas mãos.
No essencial, Pequito Rebelo reclamava a propriedade do lugar quando a autarquia ali queria construir um posto escolar.
José Adriano Pequito Rebello, solteiro, advogado e proprietário da Herdade do Polvorão, embargou a obra, apenas reconhecendo alguns caminhos públicos em redor das casas da aldeia. Curiosamente, na altura era vice-presidente da Câmara de Gavião João Ascensão, feitor da Casa Rebelo. Pequito Rebelo em 1955 colocou marcos no terreno, situação que gerou desde logo queixas dos residentes. A Câmara mandou arrancar os marcos. Entre as testemunhas de defesa de Pequito Rebelo estavam Joaquim Carranca, Germano da Costa, Mário Semedo, António José Margado e José da Silva Pio.
Na oposição que fez à Câmara, Pequito Rebelo alegou que a a escola não podia ser feita naquele local também porque ficaria a curta distância de duas tabernas.
Na sua contestação, a Câmara de Gavião disse que aquele terreno sempre foi público "desde tempos imemoriais", tendo entretanto a Câmara concedido várias licenças de obras para edifícios confinantes. Testemunharam pela Câmara Joaquim Raimundo Cardigo, José Monteiro de Jesus, João Ventura, José Couveiro e José Domingos Brites.
Pequito Rebelo defendeu que o lugar integrava as propriedades do casal do Vale da Lameira ou Vale da Feiteira, então integrado na Herdade do Vale da Rabaça, por determinação de uma carta de coutamento de 1843, numa altura em que junto ao terreno "se achavam encravados 64 diferentes proprietários e duas fontes públicas". Para Pequito Rebelo, o casario desenvolveu-se dentro de terrenos da herdade.
"A Câmara consumou a violência e a injúria pública de arrancar os 17 marcos", clamava Pequito Rebelo na sua petição ao tribunal de Nisa. Alegou também que ali havia duas azinheiras e um sobreiro de exploração da herdade, árvores mandadas cortar por antecessores de Pequito Rebelo.
A Herdade do Vale da Feiteira, afirmou ainda Pequito Rebelo, veio para a sua família em 1887, incluíndo duas casas de habitação no lugar em refrega. Ali morava o feitor. Foram proprietários da herdade João de Matos Ramundo, do Crato, que dela obteve coutamento em 1843, e, por herança, José Augusto Nepomuceno de Matos Coelho, que a vendeu ao tio-avô de Pequito Rebelo, o par do Reino e Ministro da Justiça António Pequito Seixas Andrade em escritura de 1887. A propriedade seria depois transmitida a Maria Adriana Pequito Rebelo e herdada por Delfina Pequito Rebelo - após a morte desta última, passou a propriedade para o seu irmão, José Adriano Pequito Rebelo.
A verdade é que, apesar desta guerra em tribunais, o largo tem hoje o nome do contestatário e a igreja que ali se vê foi por ele patrocinada.
As voltas que a História dá.