Num dia como o de hoje, de sol de inverno e céu carregado de azul, noutros tempos teria sido possível ouvir o motor deste Miles Hawk Major , provavelmente com desenvolvimento Speed Six, sobre a Comenda, a aldeia que José Adriano Pequito Rebelo também gostava de sobrevoar. Ele que tinha aqui perto o seu aeródromo particular (ainda hoje, 2023, devidamente sinalizado) e levando quem nos visita a parar na estrada para ver se algum avião se aproxima.
O avião de Pequito Rebelo dava pelo nome de 'Passarola', uma clara homenagem ao engenho candidato a voador concebido no início do século XVIII por Bartolomeu de Gusmão.
Polvorão, em 2022
Nascido em Gavião em 1892, José Adriano era filho de José Caetano Rebelo, natural de Famalicão (Anadia), e de Maria Adriana Pequito de Seixas Andrade, natural de Gavião mas com família também com raízes em Degracia.
Na sua famosa aeronave, Pequito Rebelo tinha pintados um mapa da Península Ibérico e uma cruz de Santo André negra sobre um fundo branco.
Esta aeronave esteve ao serviço das tropas de Franco durante a guerra civil espanhola e Pequito Rebelo integrou, como alferes, as forças de observação aérea. O piloto-aviador viria ainda a servir as forças armadas portuguesas durante a guerra do ultramar, integrando, em Angola, as formações aéreas de voluntários, no início do conflito.
Na memória ficou, na preparação da guerra civil espanhola, a escala de uma esquadra de Junkers 52, enviada a Franco pelos alemães, no aeródromo do Polvorão.
Para além do seu percurso na aviação, José Adriano Pequito Rebelo revelou-se noutras 'artes' e foi um dos fundadores do movimento Integralismo Lusitano, revelando-se aí, conforme escreveu Miguel Esteves Cardoso, numa posição charneira entre o modelo do Porto pré-Descobrimentos em conflito aberto com Espanha e o modelo sebastianista que apontava para a criação do V Império e mais empenhado numa boa relação com 'nuestros hermanos'. Mas Pequito Rebelo foi também prolífico na produção literária, sendo autor de mais de duas dezenas de obras sobre temáticas diversas. Já depois de abril de 74, quando viu as suas herdades estatizadas, publicou ainda uma mão cheia de obras sobre os efeitos da reforma agrária. 'O abominável latifúndio: lenda negra desmentida por seus próprios sequazes' foi o seu último livro, editado em 1982, três anos antes da sua morte.
Não vamos entrar em considerações ideológicas, apenas aqui estamos para uma primeira abordagem ao percurso deste gavionense que entrou na História de Portugal, um homem convictamente monárquico - o rei D. Duarte II esteve várias vezes nas propriedades de Pequito Rebelo - e um comprovado inventor de máquinas agrícolas. Um homem que em pleno Estado Novo não foi receber, na categoria de Cavaleiro, a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. O regime implantado por Oliveira Salazar nunca parece ter tido em Pequito Rebelo um adepto convicto, com este a integrar mesmo, em 1949, uma lista agrária independente nas eleições para a Assembleia Nacional.
A sua memória permanece no Vale da Feiteira, onde tem o seu nome no largo da igreja e onde este século ainda funcionou um escritório da Casa Rebelo. Há dois anos, José Pio, presidente da Câmara Municipal de Gavião, revelou a intenção de dar o nome de José Adriano Pequito Rebelo ao anunciado museu dos trens, projetado para o edifício, em renovação, do antigo seminário, que foi também casa da família Rebelo.
Fernando Martins Oliveira informa: "Ficava sempre um empregado do Polvorão, quase sempre o meu tio Jorge, a guardar de noite o avião. O Rebelo ia de carro para a herdade."