Voltemos às nossas sepulturas escavadas na rocha que se encontram entre a Comenda e o Vale da Feiteira.
Esta é uma delas e permanece isolada, junto a um considerável afloramento rochoso, avistando-se daqui a nossa aldeia. Trata-se de uma sepultura já georreferenciada e que exibe um leve sinal de antropomorfismo através da demarcação da zona dos ombros.
O sepulcro rupestre tem 2 metros de comprimento, 47 centímetros de largura na cabeceira e 55 nos pés, encontrando-se orientado para sudoeste.
Toma-se como razoável a possibilidade deste tipo de sepulcros ter conhecido uma evolução, desde o séculos VII até ao século XV (com a sua época mais forte nos séculos X e XI), da completa indefinição do encaixe para o corpo humano até à definição fina sobretudo dos contornos dos ombros e da cabeça (permitindo que esta permanecesse perfeitamente imóvel). No penedo existe um abrigo que está atulhado e onde foi encontrado um percutor em seixo quartzítico, provavelmente relativo a um momento anterior, remetendo-nos para o período pré-histórico, e perto foram encontrados ímbrices grossos (telhas) e cerâmica fina alaranjada, sinais que podem indiciar uma presença em época de domínio romano.
Cerca de 50 metros adiante no PR3, mais três sepulturas, ou seja, uma pequena necrópole, aproveitando quase todo o afloramento rochoso, o que fez com que uma delas tivesse uma orientação diferente. Estas sepulturas estão sinalizadas como sepulturas antropomórficas mas não são e nas imagens do placard mistura-se a sepultura escavada na rocha junto da Ribeira da Venda, o que causa ruído.
Estas sepulturas destacam-se numa zona elevada em relação à ribeira que corre ao fundo, com bom domínio da paisagem.
Seguindo o caminho, numa cota inferior, encontramos um grande afloramento rochoso com tudo para 'receber' sepulturas mas que permaneceu intacto. O que nos conduz para a tese que aponta para a implantação deste tipo de moimentos em locais destacados e com grande visibilidade, quase sempre junto a caminhos, como é este caso.
Vamos tomar a liberdade de chamar a este conjunto de 1+3 moimentos sepulturas escavadas na rocha do Lagar do José Herculano, cuja ruína se encontra junto ao ribeiro, mais o respetivo açude, onde não conseguimos chegar devido ao mato denso.
Esta sepultura foi a última deste conjunto de três a ser revelada. Tem 2,10 metros de comprimento e uma largura de 52 centímetros na cabeceira e 33 nos pés (podendo enquadrar-se dentro da séries de sepulturas trapezoidais), com uma profundidade de 44 centímetros. Está orientada para Oeste.
As duas sepulturas gémeas, por sua vez, apresentam rebordo para tampa e estão orientadas para sul. A da esquerda tem 1,80 metros de comprimento e uma largura homogénea de 55 centímetros e a outra tem o mesmo comprimento, o que indicia que foram construídas no mesmo momento. Estudos apontam trabalho especializado, com a duração de três dias, para a construção de um sepulcro roqueiro deste tipo, o que podia exigir capacidade financeira para quem a mandava fazer.
Concluindo, estamos perante um local com grande potencial arqueológico e onde podem surgir outros vestígios do passado, tanto mais que este terreno não foi palco de cultivo com máquinas ou da sempre destruidora plantação de eucaliptos.
Não muito distante fica um silo identificado como neolítico mas referenciado no Portal do Arqueólogo como medieval, ao qual voltaremos para contar uma história que muitos comendenses conhecem.