Raras são as casas que têm a sua data de fundação inscrita. Parece ser o caso desta grande casa da Comenda, onde no rés-do-chão funcionou uma farmácia e antes desta o Café do Margarido e onde no piso superior foi o famoso salão Flores, palco de grandes bailes na aldeia.
A farmácia tinha entrada pela Rua Dr. Freitas Martins e a mercearia que a antecedeu era um daqueles estabelecimentos que tem tudo e mais alguma coisa, com especial destaque para o enchidos que resultavam das matanças e desmanchos típicas de uma época ("o meu pai chegou a desmanchar dez porcos numa semana", diz Gracinda Flores).
22 de julho de 1939 é a data que se lê na chaminé. Se marca o momento da construção da chaminé ou de toda a casa, não sabemos. O que sabemos é que nos anos 50 e 60 esta casa e sobretudo o seu salão - onde também se projetaram filmes - eram uma referência da Comenda, ali na interceção da rua dr. Freitas Martins (antes Rua do Albino) com a Rua Dona Pequito Rebelo (antes Rua Oliveira Salazar). João Mendes Flores era o projecionista desses filmes que também levava a outros lugares na sua gesta itinerante da sétima arte.
Entretanto, graças a informações diretas da dona Gracinda Flores, hoje com 92 frescos anos e filha de João Mendes Flores, ficamos a saber que a tal data inscrita na chaminé marca a construção do primeiro piso desta casa, cuja fundação naturalmente está para além do ano de 1939. Disse-nos Gracinda que o salão Flores foi inaugurado no dia 6 de janeiro de 1940, ou seja, pouco depois de estar finalizado o primeiro piso. Era um salão grande, com dois compartimento, um deles onde estava o "buffet". Hoje, esse piso está dividido.
O que nos disseram também foi que esta casa teve um marco geodésico no seu topo. Se ele ainda lá está ou não, não conseguimos perceber.
Também graças a Gracindo Flores, ficamos a saber que o marco já lá não está, bem assim como grande parte da torre no topo da qual estava colocado. Era o marco geodésico da aldeia, na altura removido para o depósito, onde se encontra (faltando saber se é o marco original se um novo). A casa tinha nesse local também um gerador.
Não esqueço esta casa pois foi aqui que milagrosamente me foi oferecido abrigo quando há pouco mais de dois anos fui surpreendido pela saraivada que se abateu durante a temporada das festas de Nossa Senhora das Necessidades.
Todas as casas têm a sua história e também as histórias de quem nunca lá viveu mas viveu com a imagem do edificado e com o que lhe aconteceu nessas casas.
Uma nova informação: o cinema começou a ser projetado no salão Flores a partir de 1953, aí funcionando até ao início dos anos 70. Um salão der baile, uma sala de cinema e também local para muitas bodas e outros convívios.



