Quando quem nos dava energia era a Hidroelétrica Alto Alentejo

Quando se fez luz em Portugal, não foi o Estado que investiu na produção e distribuição de energia. No início do século XX, foram empresas privadas que tomaram em mãos este desiderato. Lentamente, até já à segunda metade desse século, foi-se fazendo luz em diversas povoações de Portugal, primeiro nas grandes urbes, depois nas vilas e aldeias.

À Comenda, a luz elétrica chegou apenas em 1963. Com energia fornecida precisamente pela Hidroelétrica Alto Alentejo.

Em 1958, José Custódio Nunes geria a Hidroeléctrica AA, na qualidade de fundador desta empresa que iniciou a sua atividade em 1925, com o objetivo primeiro de aproveitar os mananciais da Ribeira de Nisa para fornecer energia eléctrica a particulares, empresas e explorações agrícolas.

José Custódio Nunes era natural de Póvoa e Meadas e de aí não ser de estranhar que o primeiro empreendimento da empresa tenha sido mesmo a barragem que hoje ainda lá está.

Esta é a sua "casa das máquinas" ainda a cheirar a nova (imagem do excecional blogue Restos de Coleção).

A Barragem da Póvoa e Meadas foi inaugurada em 1927 e hoje é de aí que vem a água que sai das nossas torneiras. Foi a primeira barragem da HAA. Uma barragem com 28 metros de altura e 178 metros de parede hoje a precisar de reforma pois o risco de colapso está longe de ser uma especulação. Isto quando avançam milhões de euros do PRR para a Barragem do Pisão, uma barragem dedicada sobretudo ao regadio dos concelhos do Crato, Alter do Chão e Fronteira.

À Póvoa e Meadas seguiram-se investimentos na Pracana (no Ocreza), em 1950, e em Belver (no Tejo), em 1952.

Apenas em 1962 o governo português decide que o sector da produção de energia deve estar concentrado numa única empresa, surgindo a Companhia Portuguesa de Electricidade. Após abril de 74, o sector elétrico é nacionalizado e constitui-se a EDP, sendo a Hidroelétrica Alto Alentejo uma das 13 empresas privadas que lhe deram origem.

Hoje, a EDP é uma empresa privada, tendo como maior acionista a China Three Gorges Corporation (21%) e incorporando participações da espanhola Oppidum Capital (6,8), da norte-americana Black Rock (6,3%) e de um fundo de pensões do Canadá, com cerca de 60% de ações distribuídas em bolsa por investidores diversos.

 O que diriam os fundadores das empresas de produção de energia do início do século XX perante este novo quadro no qual surgem na posse de um consórcio francês de seis barragens no Douro e seus afluentes (vendidas por 2200 milhões de euros)?

Fica a memória que nos diz que, no fundo, é a iniciativa privada o motor de qualquer economia, por muito que isso custe a quem vive na bolha da utopia que gosta de colocar nas mãos do Estado a vida de todos nós.