Hoje vamos voltar à rua 5 de outubro, a rua que se perde no campo

 


Já andámos pela rua 5 de outubro nesta nossa ronda pela toponímia de Castelo Cernado, procurando também deixar uma imagem do presente que nesta altura também já é passado.



Ali regressamos porque na primeira volta não fomos até ao fim desta longa rua que começa, ou acaba, na Praça Dr. Alves Costa e termina no campo, quase encontrando-se com a rua do Monte da Pedra, correndo num primeiro lanço na direção norte-sul e depois para este.

Vamos considerar este o seu terminus.


Estamos agora a subir e a dar registo de uma bela propriedade a assinalar o limite de Castelo Cernardo.

Mas, agora à direita, nem todo o edificado está em bom estado. Esta ruína, por exemplo, assinala a sombra do registo fotográfico no velho muro.

Por aqui, a aldeia já se divide entre o casario e o campo aberto, neste caso um olival. Aqui paramos para refletir na referência toponímica ao dia 5 de outubro de 1910, quando foi proclamada a República, após muitos séculos de monarquia. Uma proclamação feita, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, por um gavionense, Eusébio Leão, personalidade nascido em Degracia e que já teve o seu nome numa rua da Comenda, onde hoje é a rua Josefa Barros. Eusébio era irmão de Ramiro Leão.

Este mesmo Ramiro Leão que deu o seu nome à grande casa comercial do Chiado.


Dá para perceber que a subida pediu a ajuda dos gémeos mas valeu a pena o esforço pois agora podemos apreciar esta bela vivenda com alpendre, a vivenda de A. Silva.



O GPS anuncia curva para a direita, fica para trás a rua do Castelo Velho, a tal rua que nos faz suspeitar da existência do tal castelo naquela local. Estas flores já foram aqui apresentadas mas penso que não se importarão da repetição (e da quase rima, pois então).


À direita da imagem, dá para perceber já um pouco da rua do Saco, um beco sem saída, tal como a rua do Castelo Velho.


Estamos agora na reta final, já avistando o largo do Café Alentejano. Mais uma paragem para o registo de um sobrado que vai cedendo, numa grande casa da parte mais estreita da rua 5 de Outubro.


Eis uma solução arquitetónica pouca comum: uma grande varanda-pátio em cinemascope para a rua e a paisagem.


Esta rua hoje é de passos perdidos mas já conheceu grande animação, como acontecia quando tinha frente a frente duas populares tabernas e era simplesmente conhecida por rua do Mija em Pé, assim batizada por um padre da freguesia a propósito das micções em público dos frequentadores das tabernas.

Uma dessas tabernas era a de Manuel António Porfírio e de Isabel Leonor. A outra taberna seria a taberna do Possidónio.

Nesta rua, conforme informa Jorge Branco, no seu 'Comenda com Alma', existiu um forno comunitário, contemporâneo do forno comunitário do átrio da Pensão Senhorinha (na rua principal, não muito distante).


Maria Chambel referu, numa anterior publicação, que esta rua já se chamou rua da Ribeira, do Castelo Cernado e Marcelo Caetano mas não sabemos se se está a referir a este troço mais estreito se ao troço inclinado que 'corre' para a atual rua do Monte da Pedra. O que sabemos é que as ruas com nomes de personalidades do Estado Novo foram apeadas após o 25 de abril, não tendo durado muito essa memória toponímica inscrita nas ruas da Comenda no início da década de 70. Jorge Branco, Manuel Lérias e o Hélder, conforme refere o primeiro, trataram do assunto logo que chegou a ordem do governo revolucionário para tirar as placas "fascistas".

Certo é que o nome 5 de outubro para esta rua foi aprovado pela Câmara de Gavião, por proposta da junta de freguesia de Comenda, em 1911, juntamente com a aprovação dos topónimos "República", "Cândido dos Reis" e "Miguel Bombarda", todas com referência ao movimento revolucionário que decapitou a monarquia. Foi preciso esperar por 1930 para batizar com o nome do Dr. Alves Costa o largo do Café Alentejano.

Ufa, chegamos ao fim. Acho que merecemos um copo no Johnny's Bar.