BELVER Plataforma logística não ata nem desata

 


Depois de, no início do ano corrente, ter sido publicitada e amplamente divulgada, a grande plataforma logística prevista para Domingos da Vinha, na freguesia de Belver, junto à A23, não ata nem desata.

O processo já foi dado como morto mas a chama voltou a acender-se em meados do ano corrente, quando o consultor imobiliário, Paulo Amaro, voltou a dar sinais de vida e reafirmou a intenção de prosseguir o projeto, embora já sem garantir uma plataforma logística da dimensão inicial e falando já na alternativa de um cluster para a produção de hidrogénio e sua distribuição.


O projeto inicial, recorde-se, foi mesmo apresentado em reunião de Cãmara pelo vice-presidente António Severino, numa altura em que quase 100  proprietários de terrenos, num total de 134, já estavam sensibilizados para a venda de muitos lotes. O processo mereceu mesmo o empenhamento da junta de freguesia de Belver, onde se realizaram as reuniões com os proprietários.

Em março, porém, o promotor imobiliário, que nunca divulgou o nome dos investidores, desistiu do projeto apresentado no dia 22 de julho de 2022 à Câmara de Gavião. Amaro alegou que a autarquia falhou o prazo para a entrega que viabilizasse a venda dos prédios rústicos do terreno previsto para a plataforma logística.

Há poucos dias, numa reunião de Câmara, José Pio referiu sucintamente que tinha trocado mensagens "há poucas semanas" com o promotor imobiliário, fazendo questão que se tratou de um contacto seu e que a resposta foi muito curta. Sabe-se que Paulo Amaro solicitou à Câmara de Gavião um espaço de trabalho na Incubadora de Empresas de Gavião e que este lhe foi concedido.


Em maio deste ano, a Ponte TV reproduziu uma entrevista com o consultor imobiliário Paulo Amaro e José Pio lado a lado, o que aconteceu no local do investimento anunciado.

O presidente da Câmara de Gavião recordou que a Câmara foi consultada pelo consultor para a disponibilidade de uma área com 50 hectares mas disse que desde logo a autarquia se empenhou no processo. "Chegamos já aos 170 hectares e tem sido um trabalho árduo", precisou, revelando que o processo está nas mãos do vice presidente de Câmara, António Severino. "Acredito que temos dado resposta a todas as solicitações", acrescentou, disposto a avançar mesmo um plano de pormenor para viabilizar o projeto.

Apesar da perspetiva otimista inicial de José Pio, Paulo Amaro pintou genericamente um cenário mais cinzento. O consultor imobiliário destacou a proximidade dos terrenos com a A23. "Mas em março de 2022 o dólar valia muito mais do que o euro e a parte da plataforma logística caiu em dezembro com a possibilidade de uma unidade de produção de hidrogénio verde", disse. "Até 8 de outubro consegui reunir com 79 proprietários juntamento com o Vítor Ramos", revelou. "Hoje, a possibilidade, devido ao incumprimento, é começar do princípio e não garantimos os 55 mil euros por hectares que tinha proposto, ou seja, cerca de 25% mais que o valor de mercado", referiu também sobre um projeto que seria atrativo para os investidores dentro de uma volumetria de 15 metros cúbicos por metro quadrado, "o que até hoje não foi possível obter da Câmara", após muitos meses desde o início do processo.

Paulo Amaro reclamou comprometimento da Câmara e considerou isto o "calcanhar de Aquiles" do processo. José Pio replicou, discordando das palavras de Amaro sobre o compromisso da autarquia, dizendo que entabulou conversações com várias entidades "no sentido de conseguir alguma viabilização" mas "todos me perguntavam pelo pré-projeto". Quanto à volumetria pedida, disse que o que foi pedido "não existe em Portugal, sendo o máximo 5 metros cúbicos", Os tais 15 metros corresponderiam a um edifício com a altura de 5 metros. Ainda assim "temos insistido para a possibilidade de o projeto incluir os tais 15 metros cúbidos de volumetria", juntou.

José Pio disse que o consultor esteve sempre a fazer subir a dimensão da área pedida, até se chegar aos 172 hectares, com todos os proprietários identificados. "Fizemos chegar tudo ao Paulo Amaro com um dia de atraso apenas", precisou, naturalmente com as palavras que ouviu do consultor.

Nesta entrevista de maio deste ano, Paulo Amaro disse que o projeto inicial a concretizar-se iria criar cinco mil postos de trabalho. "Esperamos que a Câmara Municipal também faça a sua parte e eu sempre esperei que tivesse criado um gabinete dentro da sua estrutura para ponderar tudo o que está inerente a este projeto", afirmou, sempre numa narrativa crítica em relação à autarquia. "O terceiro prazo dado à Câmara, para além das frases bonitas, também documentasse as coisas", sublinhou, dizendo que o presidente da Câmara "foi um pouco mal assessorado".

"Como é que é possível em dez meses não conseguir desenvolver isto?", questionou-se. "Parece que fica sempre tudo em banho Maria", junto, reclamando para si os créditos da criação deste processo. "Desejo boa sorte à Câmara", rematou.

O projeto acabou? A esta pergunta, Paulo Amaro respondeu: "Não estamos aqui para pôr uma pedra sobre o assunto ou mandar foguetes para o ar, estamos aqui junto para tentarmos compreendermos as nossas fraquezas e fazer isto andar para a frente". José Pio, por seu lado, concluiu: "Sendo o Paulo Amaro uma pessoa honesta e sincera, tem de reconhecer o trabalho que tem sido feito pela Câmara de Gavião". Tendo dito que a autarquia "não assinou de cruz" qualquer documento. "Temos feito tudo dentro da legalidade mas também tem de ser dito que o Paulo Amaro ainda não fez chegar à Câmara qualquer carta de compromisso", acrescentou.

José Pio considerou também "uma absoluta novidade" a alternativa hidrogénio verde mas mostrou-se disponível para estudar o projeto.

As informações sobre o processo, frise-se, são hoje muito poucas e quando surgem são lacónicas. Esperemos pelo novo ano para ver se o processo volta a dar sinais de vida e se na forma de plataforma logística, cluster de hidrogénio verde ou outra coisa qualquer.