A Comenda merece mais estudos sobre a sua rica toponímia

 


Para além de obras avulsas de sínteses intrincadas e não raros floreados literários, por norma os municípios portugueses são descuidados no investimento na sistematização da sua informação histórica.

A toponímia não foge à regra mas, felizmente, a Comenda tem a sorte de conhecer um bom trabalho de Edviges Alves Apolinário, professora residente na Ferraria, sobre a sua toponímia, um trabalho feito em sede de tese de mestrado e que envolve também a vila de Gavião. Esta síntese já deveria estar editada ou então disponível, através do arquivo municipal, na internet. Mas é assim este país e também o arquivo municipal da Câmara Municipal de Gavião está entregue à sua sorte, à espera de investimento para o seu estudo e organização.

A memória das pessoas, por sua vez, nem sempre é certa quando o assunto é a toponímia pois não raras vezes se confundem nomes de ruas ou então os nomes populares sobrepõem-se aos oficiais, como acontece relativamente à extensa rua 5 de  Outubro, ainda hoje conhecida como rua do Mija em Pé. Para já não falar na Rua Principal, a hoje Dona Delfina Pequito Rebelo, que até já terá sido conhecida, segundo Jorge Branco, como Rua Pedro Louceiro, o nome de um popular toureiro.

Edviges Apolinário, no seu trabalho, começou desde logo por dizer que A Câmara Municipal de Gavião não dispõe de qualquer registo sistemático da evolução da toponímia da aldeia do Castelo Cernado. "Os dados coligido a este propósito apresentam algumas lacunas", refere.

"Apenas as renomeações de 1911 e a atribuição do topónimo Dr. Alves da Costa ao Largo Principal, em 1930, se encontram registadas em ata da Câmara", salienta-se.

O estudo de Edviges Apolinário 'bebeu' sobretudo de uma fonte: o registo toponímico que resultou, em 1973, da abertura das valas de esgoto.

Através desse registo, ficamos a saber, por exemplo, que a Rua da Parreira - que também tivera os nomes de 31 de Janeiro e Marechal Carmona - é hoje a Rua do Vale da Feiteira, Ou que a rua do Cabeço é hoje a rua Eusébio Moreno. Ou que o hoje Largo Nossa Senhora das Necessidades, o largo de O Choupinho, em 1973 tinha o nome de Oliveira Salazar.

Para além desta edição sobre a nossa toponímia que devia estar editada e consultável, não ficaria mal à Comenda fazer alguma força para que Edviges Apolinário pudesse desenvolver este seu estudo, avançando para uma síntese mais completa sobre a toponímia de Castelo Cernado/Comenda e, já agora, também dos seus lugares do território envolvente.

Em remate final, aqui deixo uma curiosa popularização toponímica de uma rua da minha terra - Matosinhos -, onde a travessa Comendador Camacho Teixeira, um arruamento sem saída, atrás da igreja de Santo Amaro, é conhecida por Rua do Cu Tapado pelas razões que são fáceis de descobrir.