Também havia no Orfeão de Matosinhos um Daniel como o que temos na Comenda

 

Hoje, 17 de março, o Orfeão de Matosinhos completa 106 anos de vidas. Digo vidas porque, de facto, nesta casa que veem na imagem, na rua Brito Capelo, outrora a grande rua comercial de Matosinhos, muitas vidas foram cruzados. Eu próprio sou um filho do Orfeão de Matosinhos e só não sei se fui gerado entre estas paredes...

Quatro gerações da minha família têm as suas vidas ligadas a este casa, onde cantaram, dançaram, conviveram, fizeram teatro (no meu caso bem cedo, aos 16 anos) e se casaram.

O meu avô Álvaro Ferro, cuja família tem origens em Elvas, foi tudo no Orfeão de Matosinhos, que era a sua segunda casa, e o meu pai também. E o meu avô Delfim integrou ainda muito jovem o primeiro coro, em 1917. Na parte que me toca, dei ao orfeão alguns anos da minha juventude e ali regressei para integrar a direção do Centenário.

Curiosamente, quando cheguei à Comenda encontrei logo um orfeão - o vosso e agora também nosso Estrela da Planície. "Só" tem 30 anos de atividade mas revela uma pujança fantástica através do seu coral de canto polifónico. Em Matosinhos, o coro recupera ainda de uma grave crise que, no início da segunda década do século XXI, reduziu o grupo a cinco elementos. Hoje já são mais mas não está fácil atingir a massa crítica de outros tempos.

Por isso, caros comendenses, quando olharem para "apenas" 30 anos do Orfeão Estrela da Planície nunca desvalorizem na comparação com outros coros muito mais antigos. É no hoje que se define o futuro embora o ontem seja sempre motivo de orgulho. E o hoje do Estrela da Planície é radiante muito graças àqueles que todos os dias se dedicam a ele.


Como é o caso, sem desprimor para os demais, do Daniel Tomás.


Também no Orfeão de Matosinhos conheci outro Daniel, o Daniel Basto (o 2.º a contar da esquerda na 2.ª fila), que praticamente vivia naquela casa sempre com amor à causa. O associativismo é a sempre a via mais rápida para um trabalho interminável e nem sempre devidamente reconhecido e por isso é uma das manifestações mais verdadeiras de serviço público.