A Casa da Torre, o marco geodésico que a coroa e a memória medieval de Gavião

 


O que estão a ver é provavelmente o único edifício português que tem no seu topo um marco geodésico. A Casa da Torre, em Gavião, destaca-se num dos pontos mais altos da vila que já esteve sob a jurisdição da Terra de Guidintesta, do Priorado do Crato e do concelho de Belver.

É um curioso edifício que visto deste ângulo mostra o seu torreão coroado de ameias e com o tal marco geodésico. Num plano mais abaixo, uma chaminé em xadrez em jeito de pequeno minarete, 'entrando' no friso de azulejos e com um galo de catavento, num extraordinário espetáculo vernacular. 


O belo e extravagantes edifício [ver mais no link] apresenta já sinais de degradação, conforme resulta desta imagem, com o aparelho de construção já à vista e a justificar análise de pormenor. E permanece inacessível.


"Mais alto" assinala o padrão, ali perto.

Como já noutra altura escrevemos, é pouco provável que este edifício torre seja a antiga torre medieval com que Gavião foi contemplada no reinado de D. João I e que surge ainda num desenho de 1620, da qual houve posteriormente notícias de estar arruinada.




Essa torre deve ter dado origem ao lugar ainda hoje conhecido como Chão da Torre, cerca de 300 metros mais para nascente, também num dos pontos mais altos de Gavião.

Só consultando documentação relativa à construção deste singular edifício podemos concluir em definitivo se este não resulta do aproveitamento da antiga estrutura militar e de aparato. Mas aparentemente não, tendo em conta as referências e as plantas conhecidas. Quando muito, pode ser um revivalismo memorialista, não deixando, no entanto, de ser um edifício que merecia ser reabilitado e aberto ao público pois destaca-se claramente entre o edificado da vila de Gavião e terá sempre a sua história para contar.


Aliás, sempre que me demoro algum tempo em Gavião, como hoje aconteceu, mais fico a gostar desta vila de um Alentejo que se diz diferente.