A aldeia do Vale da Feiteira é a aldeia gémea da Comenda que já foi Castelo Sernado e depois Castelo Cernado.
A um quilómetro e meio da cabeça de freguesia, aqui se abre um dos mais amplos e belos caminhos, na direção da aldeia da Cunheira, já em Alter do Chão. O caminho percorre ainda território do Crato. Ou seja, estamos perante um caminho que percorre os concelhos de Gavião, do Crato e de Alter do Chão, concelhos que não são propriamente pequenos em termos de área: 294 Km2 (Gavião), 398 Km2 (Crato) e 362 Km2 (Alter do Chão).
O Vale da Feiteira, onde a Casa Rebelo teve a sua administração, no largo que hoje tem o nome do conselheiro José Pequito Rebelo, já teve mais habitantes que a Comenda no final do século XVIII.
A ponte sobre a Ribeira do Sor, no caminho para a Cunheira, noutros tempos muito percorrido, sobretudo pelos homens que traziam o peixe (desde a estação ferroviária) para aqui, foi construída nos anos 20 do século passado por um mestre canteiro da Comenda, José Alves, é centenária já e está, como dizia alguém, 'firme e hirta como uma barra de ferro'. Ao que parece chegou a ter belas guardas em cantaria que entretanto foram surripiadas.
O Sor correu aqui farto e agressivo nas cheias de dezembro mas agora serenou. A corrente arrastou consigo areia e temos agora, na sua margem esquerda, uma bela praia, infelizmente inacessível pelo arame farpado da herdade. Neste país a serventia das margens dos rios e ribeiros devia ser pública mas parece que também aqui a lei é como Inês.
Sem querermos entrar no exercício livre sempre perigoso da etimologia, aqui deixamos ficar um facto: Feiteira é um dos mais de 18 mil arabismos assimilados pela língua portuguesa. Segundo Adalberto Alves [Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa, 2013], é substantivo feminino de feito (fa'id), ou seja, de abundante ou super abundante. Uma abundância natural que é possível hoje apreciar mas que tem as suas limitações (e lá voltamos ao arame farpado).
Um belo caminho este, que até dispensa os endémicos passadiços.