A Taberna do Ti Albino e o fim da sua história como tal

 


Nesta casa, na rua dr. Freitas Martins, funcionou durante muitos anos a Taberna do Ti Albino. Era tal a sua importância na Comenda que esta rua durante muitos anos foi conhecida por Rua do Albino.
Em breve estarei na posse de toda esta história e esse facto fez-me meter pés ao caminho para tentar apurar algo mais sobre o que aqui se passou.


Graças a Jorge Branco e ao seu preciso 'Comenda com Gente' fiquei desde logo a saber que foi na Taberna do Ti Albino que os comendenses pela primeira vez puderam ver televisão, depois de também aí ter sido o posto de escuta de rádio. Junto da família, não consegui depois perceber a data exata do fecho de atividade de uma das mais de uma dezena que tabernas que a Comenda já teve.
Até hoje.
Escondido atrás de alguma tralha, eis o fóssil diretor: um calendário de 1985. Carlos Mendes, neto do Ti Albino não tem memórias desta taberna a funcionar. Uma taberna que era, conforme me contou, muito mais que isso, aí funcionando também um grande tanque onde se guardava azeitona em água - três dos seus muros ainda podem ser vistos num quintal coberto por latadas de uvas brancas e pretas e hoje habitado por um solitário granizé de que aqui já demos notícia.
Não é ciência exata mas provavelmente 1985 foi o ano que marcou o encerramento da popular Taberna do Ti Albino (se mais alguém tiver informação de malha mais fina, que chute para aqui)



Eu e a Ana iremos, com a ajuda de uma arquiteta e de uma engenheira aqui da aldeia e também com a equipa que irá desenvolver a obra (igualmente comendense), esperamos estar à altura de tanta história que aqui se viveu, num espaço que também ficou conhecido como 'A Casa do Rock', onde a juventude comendense, no final dos anos 80 e início dos 90, se juntava para conviver e 'partir pedra'. Num espaço onde este rádio deu música e notícias, nada de mais apropriado, certo?

Albino Monteiro de Matos faleceu, com 90 anos, no dia 5 de Dezembro de 2002, segundo o jornal 'Comenda', número 221.

[ Algures em 2016, o carro do Google passou por ali... Quem estava à porta da taberna? ]




Agora, a Taberna do Ti Albino vai manter o seu nome mas em modo de alojamento. A sua memória ficará acessível a quem desfrutar futuramente deste espaço. Não devemos ter medo de fantasmas pois nós próprios um dia fantasmas também seremos.

O comendense Jorge Graça esclarece:
 A Casa do Rock é em frente no número 17 por ventura a minha casa onde se sintonizada as ondas curtas para ouvir a voz da liberdade e também se ouvia as últimas músicas fresquinhas importadas de Londres. Aliás a Casa do Rock está muito claro no livro do amigo Jorge Branco sobre a sua importância para a juventude da época, nesse tempo já a Taberna do Albino estava em vias de encerrar as suas portas.

MAIS CONTRIBUTOS

Maria Adelina Oliveira Henriques
Esse calendário fui eu que o levei para aí, pois foi na Gasilux, que já não existe, que me iniciei no mundo do trabalho. Vivi nesse espaço, desde os 7 anos aos 18....vou tentar lembrar-me de quando encerraram essas portas....mas terá sido por volta de 1978, 1980...

Luis Guedelha
Este espaço comercial tem muitas histórias, lembro-me de ouvir dizer que noutros tempos nas festas da comenda era muito comum aí cantaram e dançaram lindas espanholas, vale a pena apurar por quem ainda se lembra dos tempos áureos dessa casa pois certamente irá enriquecer a historia da nossa terra e da nossa gente. Fui aí meter muita vez o totobola do Rui Camilo e vender com o Álvaro e o João Caixinha (carita) sucata que apanhávamos nas azinhagas e lixeiras da nossa terra e assim lá íamos comendo um geladito ou fumando um Kentucky às escondidas.

Rosinda Flores
Lembro me muito bem da taberna do ti Albino foi um dos primeiros a ter televisão a preto e branco ligada se não estou em erro num motor que fazia barulho.

Conceição Severino
Lembro-me de ele comprar azeitona .
Entre 1976 a 1979 Eu ia lá todos os dia levar com o meu avó que Deus tem.

Rosa Luz
Eu era muito pequena..não sei se era ai que a minha me comprava sempre castanhas peladas..vinha a pé das Polvorosas ,para Tolosa..e paravamos sempre aí..eu lembro é dos bolos do ti Cortez que ia todos os sábados a tarde vender o pão para toda a semana..ao monte.

Ana Clara Borrego
Em 1985 a taberna já não estava aberta. No fim dos anos 80 o meu avô doou esse conjunto de casas aos filhos e já a taberna estava fechada há uns bons anos.

Carlos Tomé
Maria Adelina Oliveira Henriques e também boleia é lande para os porcos
vendi lá muitos kg nos anos 60/63 bons tempos.

Maria Adelina Oliveira Henriques
Da azeitona que era comprada, fazia-se uma primeira escolha através de uma máquina, que escolhia a azeitona grossa da miúda. Depois outra escolha manual e cuidada, feita por mulheres contratadas para o efeito. Escolhiam a melhor, mais grossa, sem bicho, e tiravam as folhas. O lagar de Portalegre vinha buscar a azeitona miúda para azeite, e a DAMATTA, dos Envendos, vinha carregar a grossa para conserva. Na altura da azeitona era um frenesim na rua dr Freitas Martins, cheia ora de carroças ora de furgonetas, à espera de vez para ir vender a azeitona. Muita coisa para contar. Nesse espaço, para além dos negócios já aqui referidos (azeitona, pimentos, marmelos, adubos, gaz, peças em ferro para a lavoura, etc), ainda se vendia bom presunto e bom chouriço vindo dos Envendos. E nas longas tardes/noites de verão, sempre que havia algum evento televisivo do interesse da população (touradas, festival da canção, etc), era montada a televisão no alpendre, mesas e cadeiras para sentar, e eram noites de festa. E de petisco. Para além dos tremoços e amendoins, peixinhos do rio, pescados pelo "Ti Albino", fritos, vários enfiados num palito, eram de comer e chorar por mais.

Armando Fitas Castanho:
Era para essa taberna que a pequenada da minha idade se escapava quando podia. Já lá estavamos quando se dava a abertura da emissão diária da RTP. Muitas séries de televisão aí assisti sendo a do RINTINTIN a que a pequenada mais adorava. Quando eu desaparecia de casa a minha mãe não se preocupava muito, dirigia-se de imediato á taberna do ti Albino e lá estava eu com os restantes colegas ...

ESCREVEU MANUEL PORFÍRIO:
Foi aqui que vi o primeiro filme na televisão: a Maria Papoila. Nas tardes de domingo, havia na esplanada exterior coberta de ramos de salgueiro, um rádio que gritava os relatos de futebol. Aqui vimos também as touradas. A energia elétrica vinha de um gerador que o Sr. Albino colocava junto ao muro da minha casa e que se ouvia a noite inteira. No espaço adjacente, tinham um armazém onde compravam azeitona, pimentos e verga que os ciganos recolhiam dos salgueiros da ribeira.