O debate dedicado ao concelho de Gavião, no canal Conta Lá, foi o exemplo perfeito de um pacto de não agressão. Não que António Severino precisasse de atacar um dos seus adversários diretos - neste caso, Vítor Filipe - mas muito também pelo facto de o incumbente não ter recorrido ao carregador de munições que é o trabalho feito nos últimos 12 anos pelo executivo onde esteve sempre presente. Obras emblemáticas, como o Museu de Arte e Atrelagem e sobretudo a Eco Laguna, eram obrigatórios de terem vindo à liça. Mas Severino preferiu sobrevalorizar um PDM que anda por aí a arrastar-se e que, no fundo, é assunto que passa ao lado dos assuntos que o povo quer ouvir (pensamos mesmo que muito gente nem sabe o que é isso).
Por seu lado, Vítor Filipe, candidato do PSD, passou quase tanto tempo a dizer que concordava com as medidas tomadas ou anunciados pelos socialistas como a apresentar as suas propostas, em vez de, como diz o povo, pegar a vaca pelos cornos, trazendo à conversa alguns dos engulhos da recente gestão socialista, de que são exemplos os flops da plataforma logística de Domingos da Vinha e do Auchan. Vá lá que ainda foi a tempo de falar da qualidade da água que jorra nas nossas torneiras mas depressa resvalou para as fossas, assunto de que, como se sabe, nem é bom falar.
Neste debate pesou ainda a ausência, por decisão própria, embora com a CDU a alegar razões profissionais, dos candidatos Helena Sebastião, da CDU, e Artur Semedo, do CHEGA. Com as suas presenças talvez o debate tivesse tido outro sabor para além da beleza da moderadora.
No geral, um debate morno, com Severino confortavelmente sentado na sua cadeira presidencial e Vítor Filipe a tentar espetar algumas farpas sem se aproximar muito do "bicho", o que, como se sabe, não é muito recomendável. Nesta perspetiva, foi um debate que correu a favor de Severino e os poucos marcados pelos seu opositor não fizeram grande mossa pois não houve um só assunto que tivesse sido servido com sal, pimenta e piripiri.
Eu sei que pode parecer muito fixe estar a debater na televisão mas isto é como as telenovelas: sem luta, o telecomando começa a funcionar.
Quando se fala no interior também se deve falar do que o interior não consegue fazer por si. A ausência de chispa nestes debates evidencia um problema: o da ausência de discussão política. De discussão viva, que se esfuma depois da campanha mas que é necessária nestas alturas, aproveitando os raros momentos mediáticos. Basta ver o que acontece nos debates dos grandes concelhos, onde a vivacidade e o verdadeiro debate são factuais. Já assisti a reuniões de Câmara bem mais animadas mas também é verdade que Rui Vieira não esteve em Elvas...
Curiosamente, apenas a moderadora falou, no lançamento do debate, de José Pio.
