A ponte do caminho entre o Vale da Feiteira e a Cunheira merecia ter um miradouro

 


Esta foi a imagem possível desta estupenda ponte, feita com saber empírico, sem recurso a projetos de arquitetura ou engenharia, entre o Vale da Feiteira e a estação ferroviária (hoje desativada) da Cunheira.

É uma ponte obra do mestre pedreiro José Alves, um comendense cuja família se notabilizou na construção civil, uma arte ainda hoje viva na nossa aldeia.

Disse que é a imagem possível pois para se aceder às margens da ribeira de Sor é necessário transpor vedações com arame farpado, assim se ignorando a lei que diz que o acesso aos cursos pluviais é de acesso público.

Estivemos lá esta semana, tendo como tecto um céu muito azul, num dia sereno de inverno.

Nestes pegos muitos comendenses tomaram belos banhos. Agora só por lá vemos o gado a pastar, num trecho da ribeira que se alarga nas margens, com a ribeira a correr farta e rápido nos seus ressaltos.

O caminho está perfeitamente transitável e convida a uma visita pois o cenário, aqui na ponte, é fantástico.

Este é um caminho que guarda muitas histórias pois durante muitos anos teve muito movimento, sobretudo no transporte de mercadorias desde a estação ferroviária do ramal de Cáceres.

António Moutinho Margarido, antigo secretário da Junta de Freguesia de Comenda, escreveu um dia um belo texto sobre este caminho e esta ponte. É só carregar no link para ler. Para quem for mais preguiçoso, aqui se deixa a referência para o papel que o então feitor da casa Henri Buckall & Sons (Polvorosas), a dita Casa Inglesa, desempenhou como elemento também da Câmara Municipal de Gavião, a ele se devendo o arranque de uma obra que se tornou necessária quando a travessia pelo Sourinho ficou muito difícil.

Estamos perante uma ponte de dimensões consideráveis (96 metros de comprimento, 5 de largura e dois arcos com uma projeção de sete metros, para além de um quebra-mar), feita com pedra bem aparelhada, quase ao jeito romano embora sem o "almofadado" caraterístico da engenharia de Roma. Dir-se-ia que o mestre Alves se inspirou em Vitrúbio, tal como o demonstram os dois arcos perfeitamente alinhados e equilibrados, para além do tabuleiro perfeitamente horizontal.

O mestre Alves, que não construiu certamente a ponte sozinho, deixou também a marca fundacional da construção desta ponte: 1930. Uma obra espetacular de escultura.

A ponte caminha para o seu centenário e, ao contrário do que se dizia quando acabou de ser feita, nunca conheceu qualquer abalo quando o Sor correu mais forte e cheio. Aliás. logo em 1931 teve a sua primeira grande prova de esforço.

Só é pena que seja muito difícil apreciar esta grande obra devido ao arame farpado e à vegetação selvagem. É um monumento que merecia uma limpeza e que merecia também estar completamente visível, com um local para a sua observação. Já vimos grandes investimentos a propósito de baloiços panorâmicas que se repetem até ao enjoa e uma ponte como esta Gavião e o Crato, que a dividem, não têm muitas.