Desde que há eleições democráticas, o Partido Socialista nunca deixou de ganhar no concelho de Gavião. Nas últimas legislativas, Gavião foi mesmo o concelho onde o PS conseguiu o seu melhor resultado no Alto Alentejo.
Nas eleições disputadas por Montenegro e Pedro Nuno Santos, e decididas quase no foto finish, o PS garantiu em Gavião 47.40% mas caiu da fasquia do mil votos. A surpresa foi o CHEGA, com 19,31% dos votos, batendo por mais de 3 décimas o PSD/CDS e deixando o PCP a mais de 13 pontos de distância. Nestas eleições, é bom recordar, o CHEGA foi o partido mais votado em Elvas, onde bateu o PS por 600 votos e o PSD/CDS por dois mil.
Obviamente, as autárquicas são sempre as eleições mais excêntricas pois nem sempre o poder das máquinas partidárias aqui se faz sentir e muitas vezes são as relações pessoais e sociais que resolvem a questão - para além das "redes" instaladas à volta dos trabalhadores de autarquias que muitas vezes são o principal empregador do território.
Os concelhos de baixa densidade manifestam o seu conservadorismo através de dois prismas: o da fidelização partidária e o da fidelização sobre o que conhecem e o que têm os eleitores. E é no encontro destas duas correntes que muitas vezes acontece a decisão.
Ora, como se sabe, em Gavião a presidência de José Pio está em fim de linha. O político que, vindo da junta de freguesia de Gavião, sucedeu a Jorge Martins já indicou o seu sucessor (António Severino) e a questão parece ser pacífica por aí. Falta apenas conhecer a equipa a indicar pelo atual vice-presidente e saber o que vai acontecer quando tal acontecer...
Mas neste aquecimento de motores talvez seja curial referir que a performance do PS nas legislativas já está distante da sua performance nas autárquicas não tanto nos números mas sobretudo no balanço dos concelhos do Alto Alentejo.
O PS caiu de 1.428 votos em 2017 para 1.069 em 2021 e nestas últimas eleições o CHEGA estava ainda a insinuar-se nas autárquicas e foi pouco além dos 3%. Ninguém acredita que em 2025, com um candidato com alguma notoriedade, não consiga ir mais longe, baralhando ainda mais as contas e colocando mesmo o PSD/CDS e a CDU em risco de perderem, um ou outro, o vereador que têm. Isto quando já se fala que o partido de Ventura vai avançar para o Alto Alentejo com unidades de elite.
Recorde-se que José Pio no seu primeiro mandato, quando recebeu o testemunho de uma longa presidência de Jorge Martins, arrancou com 50,88% dos votos (1.334). Ou seja, o seu melhor resultado foi o do seu segundo mandato - o que costuma ser normal, a não ser nos casos de manifesta incompetência ou de descalabro do neófito presidente.
Note-se que Jorge Martins arrancou para o seu último mandato com 59,92% e 1.712 votos no bolso (apenas menos 17 que nas eleições de 2001), garantindo, em 2009, 4 dos 5 mandatos da Câmara Municipal (hoje a situação é de 3-1-1). Ainda assim, Jorge Martins acusou algum desgaste pois em 2005 conseguiu 1.962 votos (64,5%). Em síntese, com Jorge Martins o PS andou sempre muito mais perto dos dois mil votos que dos mil (atual linha de oscilação, que tem de ter em conta que Gavião tem vindo a perder muitos eleitores - eram 4.635 em 2001 e nas últimas legislativas foram 3.136).
Estas considerações valem o que valem e certamente muitos encontrarão ângulo para compromete-las mas só pedia mais um bocadinho de paciência para concluir que a história da autárquicas 2025 em Gavião está longe de estar já escrita, obrigando o jovem António Severino a ir para o terreno com as três armas e capacidade para vencer a inércia que muitas vezes atrapalha as sucessões naturais.
Como diz o povo, não pode confiar do ovo no cu de uma galinha que já esteve bem mais gorda.