Raros são aqueles que têm o privilégio de uma longa vida como a que teve o professor Manuel Alves de Jesus Gravelho, falecido com 106 anos e sepultado no cemitério da Degracia, um cemitério cedido ao município de Gavião em 1920 pela família Rebelo.
Hoje, não é Dia dos Defuntos mas de Todos os Santos mas este é o dia em que os cemitérios estão abertos para um momento especial de recordação de quem partiu. São mais de mil anos desta devoção cristã criada no ano de 998 por Santo Odílio, abade beneditino de Cluny, e quatro séculos depois consagrado pelo Papa no dia 2 de novembro de todos os anos.
O início de novembro, prenúncio do inverno, desde tempos ainda mais remotos foi na cultura dita pagã um momento de catarse e não é por acaso que o hoje popular Halloween, ou dia das bruxas, acontece na primeira noite de novembro.
Voltando aos cemitérios e ao concelho de Gavião, estamos de novo na Degracia, uma curiosa necrópole ainda hoje dividida entre um local de sepultamento popular e outro para as famílias que fundaram este sítio. Atente-se no curioso grafito que acompanha as tampas tumulares dos Raposo.
Em Gavião, a vila é servida hoje pelo cemitério municipal - que não foi o primeiro da vila pois este situou-se junto à atual capela de Nossa Senhora dos Remédios - e na União das Freguesias de Gavião e Atalaia há ainda os cemitérios da Degracia e o da Atalaia (este um segundo cemitério desta aldeia).
Na Comenda, no Vale do Grou, desde sempre o cemitério está no sítio onde se encontra, servindo também o Vale da Feiteira (a Ferraria usa o cemitério de Margem).
A freguesia de Margem tem o seu cemitério afastado de Vale de Gaviões, no caminho para São Bartolomeu, mas também já teve cemitério junto da igreja paroquial, onde jaz, depois de ser transladado do atual cemitério, Mouzinho da Silveira, junto ao respetivo busto.
Belver teve o seu cemitério dentro do castelo - e não é por acaso que ainda hoje lá está a Capela de S. Brás - mas hoje o seu cemitério está noutro local desta vila histórica.
O culto dos mortos tem outras expressões na nossa Comenda e em todo o país. Como acontece com as sete sepulturas escavadas na rocha já identificadas nesta freguesia. Esta bem próxima da aldeia, exemplo de um modo de sepultar que perdurou alguns séculos, na Alta Idade Média, e que privilegiava os enterramentos em moimentos escavados na rocha, por norma em locais de destaque na paisagem.
Mas se recuarmos cinco ou seis mil anos, com facilidade encontramos outras expressões de enterramento. Como é o caso do que aconteceu aqui perto, na Atalaia, na anta das Pedras Brancas, que serviu para enterramento das primeiras gentes que se fixavam num território e que gostavam também de sepultar os seus mortos em lugares com bom domínio da paisagem.
O ritual da morte é um manancial de variantes e para não querer cansar apenas vamos referir que em tempo de domínio romano os mortos eram sepultados fora das localidades, por norma junto a vias, e com predominância da cremação, como agora volta a ser moda. Até meados do século XIX, em Portugal os enterramentos eram feitos no chão das igrejas e no respetivo adro, com os mais ricos sempre mais perto do altar e os mais pobres mais afastados do templo - mudar esta tradição para a de hoje custou uma pequena revolução (Maria da Fonte).
Era só isto, a propósito do Dia de Finados. Espero que tenha merecido o tempo que gastaram nesta leitura.