Em Portugal subsiste ainda um sentimento paroquial que não nos permite valorizar tudo o que temos à nossa volta.
Aqui pela Comenda, por exemplo, já ouvi muitos dizerem que vai tudo para o Alamal e nada para a Ribeira da Venda. Como se fosse possível comparar estes dois espaços. Isto, claro, sem reconhecer que muito mais já deveria ter sido feito na praia que de fluvial tem pouco da Ribeira da Venda.
Apenas a 19 quilómetros da sede da freguesia de Comenda, a Praia Fluvial do Alamal há muito que entrou no roteiro turístico nacional. Este "há muito" tem sobretudo a ver com o início do século que corre, quando a Câmara Municipal de Gavião, através do presidente Jorge Martins, ali fez um forte investimento - a autarquia chamou arquitetos e outros técnicos e conseguiu, de facto, fazer deste lugar um lugar muito especial da borda do Alto Tejo.
Esta semana, à conversa com Jaime Estorninho, antigo presidente da Câmara de Gavião, escutei-o com delícia a dizer que no seu tempo de presidente sempre quis "esconder" o Alamal, então ainda um sítio meio selvagem, que Estorninho queria preservar das torrentes turísticas. É uma perspetiva que se entende mas que o progresso desconstruiu.
Esta semana, quando o calor abriu as turbinas, o Alamal estava assim. Pronto para uma época balnear mas ainda sem o nadador salvador. Nem faltava um barquinho enfeitado com bandeirinhas, que ficou do cruzeiro religioso do Tejo.
O Alamal é um sítio para todas as suas estações e o seu curto passadiço torna-se a acessível a quase todos: um percurso sereno e fácil, Tejo acima e Tejo abaixo, até à ponte centenária, vendo passar do outro lado os comboios da Linha da Beira Baixa e sempre sob a tutela do castelo de Belver, que ali está magnífico há nove séculos, sendo certo que o hoje vemos é obra da Direção Geral dos Monumentos Nacionais, uma das instituições do Estado Novo que muito fez pela recuperação do nosso património (é isso, nem sempre a cartilha é justa!).
O que falta no Alamal? Não me vou armar em esperto mas seria interessante para o concelho todos os anos ali acrescentar uma pequena novidade. Não é preciso muito. Para que ninguém adormeça sobre o sucesso que é esta praia fluvial. E, já agora, bem se podia retirar a placa da época balnear de 2014 ou 15 que anuncia uma bandeira azul que o Tejo conspurcado pela celulose de Vila Velha de Ródão já não permite...
A uma joia da coroa de um concelho que aposta (e bem) no turismo não basta mantê-la limpa e em exposição.