A Encomendação das Almas: síntese de uma noite de devoção e fé

Na noite de 22 para 23 de março do ano em curso, um grupo de comendenses, sobretudo do sexo feminino, percorreu as ruas da aldeia e parou em alguns cruzamentos para orar pelas almas que erram no purgatório. Mas não só. O momento da Quaresma dedicado à Encomendação das Almas é muito mais, como explicam aqui Maria Flores e Celeste Tapadas.

Pouco depois das 23 horas de quinta-feira passada, o grupo de crentes reuniu-se junto à Igreja Paroquial da Comenda e fez um longo percurso que passou pelo jardim Manuel de Jesus Duarte, largo dr. Cerejeira, rua do Monte da Pedra, Travessa do Monte Novo, rua 5 de Outubro, rua Dona Delfina Pequito Rebelo, rua dr. Freitas Martins e finalmente largo de Nossa Senhora das Necessidades. O grupo foi parando nas interceções de ruas para cânticos e orações.

Foram momentos de reflexão e muito comoventes no reativar de uma tradição que na Comenda tem mais anos que a idade da mais velha das pessoas deste grupo.

A Encomendação das Almas é uma tradição com raízes bem fundas na Beira Baixa mas que a Comenda adotou em tempos muito recuados, confirmando-se também aqui a ponte muito larga que existe a ligar este território do Alto Alentejo a terras do interior da Beira Baixa.

Sobre a encomendação das almas. escreveu o comendense Luís Guedelha que se lembra, ainda menino, de ouvir as rezas dentro do seu quarto, junto à janela. "Estavam no grupo o meu primo João Sabino, o Vítor Tapadas com a sua mulher Amália e a sua irmã Celeste", recorda. "Diziam os mais velhos que não podíamos espreitar para ver quem invocava as almas pois os espíritos dessas almas viriam sobre nós para nos dar chapadas", acrescenta.