Manuel Catarino, o comendense que guardou, em Goa, o túmulo de S. Francisco Xavier

 


Com o sol a brilhar e a aquecer um inverno que se prolonga, Manuel João Catarino, 88 anos, parou no largo principal da Comenda para nos contar a sua história, sobretudo do tempo que viveu em Goa, quando Portugal ainda tinha territórios na Índia.

Manuel Catarino chegou à Índia em março de 1957 e fez a viagem de barco no Rovuma pela rato do Cabo pois o Suez por essa altura estava interdito. Integrava a Companhia das Beiras, depois de ter passado pelos Caçadores 1 de Portalegre.

Eram os últimos dias de domínio português em Goa, Damão, Mazagão e Diu. Goa tinha sido precisamente também o destino de S. Francisco Xavier, o jesuíta nascido em Pamplona em 1506 e que o rei português D. João III enviou para a Índia para ajudar a evangelizar os locais.


A obra de S. Francisco Xavier é uma das maiores da Igreja e ainda hoje é o padroeiro de um Oriente que correu da Índia à China. O seu corpo incorrupto repouso num túmulo de mármore e vidro na Basílica do Bom Jesus, nas cidade velha de Goa.

Manuel Catarino fez-lhes muitas vezes guarda nos momentos mais solenes e guarda grandes memórias desse tempo e também do momento da sua chegada a Goa no dia 1 de março de 1957. "Os soldados portugueses que ali chegavam a primeira coisa que faziam era passar sob o arco dos vice-reis", contou-nos.

Da Índia voltou Manuel Catarino em julho de 1959, pouco antes do fim do domínio português nesse território. O Estado Português da Índia extinguiu-se em 1961, após a rendição das tropas portuguesas.

"São recordações que ficam para sempre, lembro-me que uma rupia valia seis escudos", diz Manuel Catarino, que voltou pela rota do Suez e esteve quase a conseguir ver as famosas pirâmides do Egipto.

Após a aventura na Índia, Manuel Catarino continuou o seu ofício de motorista na zona de Lisboa, na empresa Graça e Bento e também na Abrantina, sempre como motorista de cargas. Catarino esteve para entrar na Carris mas não quis ser cobrador. Viveu cerca de 20 anos também no Barreiro e esteve seis anos a trabalhar em Colónia, na Alemanha, "numa grande fábrica onde se fazia tudo". Só não ficou mais tempo na Alemanha porque não foi possível levar para lá a sua filha de 12 anos.

Hoje está a gozar a sua reforma na Comenda, a sua terra, onde o podemos encontrar e às suas histórias entre as 11 horas e a hora do almoço. Como aconteceu hoje.