A Herdade das Polvorosas é uma referência para quem viveu a Comenda quando por aqui o trabalho na agricultura era dominante. São muitas as histórias relacionadas com a atividade nesta herdade e Fernanda Pires, por exemplo, já referiu que aqui se cultivava tabaco em força. tabaco que era tratado numa unidade industrial junto à atual área industrial da Comenda. Depois de secas, informa, as folhas de tabaco eram selecionadas nestas categorias: de primeira, segunda e terceira.
Nas Polvorosas também se cultivou arroz de forma intensiva ou não tivesse sido junto à ribeira de Margem que esta cultura terá sido pela primeira vez introduzida em Portugal. "Eram arrozais até Ponte de Sor", disse-nos quem lá trabalhou.
A herdade, que hoje pertence à Sociedade Agrícola das Polvorosas, uma empresa que tem Daniel Proença de Carvalho como presidente da mesa da assembleia geral, está quase toda inserida na área da freguesia de Comenda, ocupando quase um terço do território e estendendo-se ainda para a freguesia do Monte da Pedra através da herdade do Mato Rêgo, uma das herdades do grupo, para além das Polvorosas, do Braçal e das Costas. O mapa revelado em tese de mestrado de Ana Sofia Vitória Coelho, apresentado no Instituto Politécnico de Castelo Branco em 2011, é, aliás, bastante revelador da dimensão desta propriedade privada.
Até 2011, a área florestal (pinheiro, eucalipto, sobreiros, azinheiras e outros carvalhos) correspondia a 87,9% das propriedades da sociedade agrícola que também cria gado cuja carne, entre outros clientes, fornece ao 'Continente'. São 3.290 hectares de silvicultura. A área agrícola, por seu lado, é constituída exclusivamente por áreas de prados, pivot e olival (414,85 ha). A área total da freguesia de Comenda corresponde a 9.000 hectares, ou seja, a área ocupada pela Sociedade Agrícola das Polvorosas corresponde a sensivelmente um terço desse território.
Não é por acaso que a Ribeira da Venda [que ontem corria bem sob o pontão de acesso aos edifícios principais do Polvorão] tome o nome de Ribeira das Polvorosas nos mapas mais antigos quando cruza a herdade vinda de norte, ribeira que a meio do século passado também era referenciada como do Braçal a jusante da Ribeira da Venda.
Aqui fica uma primeira incursão ao coração das Polvorosas, tema que prometemos desenvolver também com a ajuda de quem nos segue.
José Paulo comentou:
"Quando era rapaz tanto que trabalhei para essa gente e aprendi tudo o que se pode fazer na agricultura. Naquele tempo tinha que se cavar as terras para semear, algumas já eram lavradas com junta de bois mas aprendi o essencial: podar vinha, limpar oliveiras, sulfatar vinha... Tinha-se que cavar o mato para a cama do gado. O campo deu-me a coisa mais sagrada quando sulfatava a vinha. À moça que me trazia o sulfato de cântaro à cabeça aproveitei e pedi-lhe namoro. Estive 56 anos casado com ela. Hoje não estou com pois deus no dia 18 de maio passado chamou-a para junto dele."