Artur Nogueira Dias passa grande parte dos seus dias a cuidar da sua horta ou à conversa com os amigos num dos bancos do Largo Nossa Senhora das Necessidades, também conhecido por Largo do Choupinho e noutros tempos também chamado Largo do Tio Cortez e Oliveira Salazar (há quem ainda o conheça por Largo das Bombas, ou seja, é um local da Comenda polivalente, hoje o centro da aldeia).
Artur nasceu em Chaves, perto da antiga ponte romana e das termas milenares, e agora descansa na terra natal da sua mulher, Maria Olívia Mendes Guedelha (já falecida), com quem teve dois filhos, José Carlos e João Pedro, o primeiro a trabalhar em França e nascido no Seixal e o segundo a trabalhar na Polónia e nascido em França.
Porque foi em França, na cidade de Montargis, a 100 quilómetros de Paris, que Artur Dias, trabalhou durante 40 anos, com vindas frequentes a Portugal, sobretudo à terra da esposa. Onde se fixou há não muito tempo, na companhia do seu inseparável Max.
Este não é o Max mas o Perigo (de quem era inseparável em Angola) e pegamos na deixa para irmos mesmo ao cerne do assunto de hoje: a experiência de Artur Pires na guerra ultramarina. Uma história que vai contando aos seus parceiros de banco. Neste caso, pus-me eu a jeito e...
...assim fiquei a saber que o perigo foi a sua profissão como tripulante de uma lancha dos fuzileiros que andou por rios dos confins de Angola. Artur Pires é homem do corte à comanche, bem entendido. Ele fez três comissões, duas em Angola e uma em Moçambique, durante quase toda a década de 60 do século passado, isto é, praticamente desde que a guerra foi espoletada, até 1971.
Artur Nogueira Dias, nascido a 30 de junho de 1942, quando a Europa estava em guerra, foi fuzileiro especial e "pegava em todas as armas", desde este lança foguetes (a popular bazuca) à G 3, passando pela metralhadora MG 42.
O nosso fuzileiro especial correu vários teatros de guerra. Por exemplo, esteve em Nabongongo, "onde estivemos 13 dias sem nos vermos uns aos outros durante a operação Zinco".
O fuzileiro especial Artur Dias conheceu várias situações sob fogo cerrado. À pergunta se alguma vez teve a certeza de ter atingido alguém, reserva-se e diz apenas: "Estávamos lá para nos defender".
Mas Artur Dias prefere claramente contar as histórias do tempo de pausa da guerra, onde também usava as suas qualidades de atirador especial. Como aconteceu quando abateu este hipopótamo de quatro toneladas.
Este bicharoco.
"Tem uma carne muito saborosa e tenra e era uma peça de caça excelente quando assada no forno e que também distribuiamos pelas populações", conta-nos, sublinhando que a tropa portuguesa "sempre se sentiu bem acolhida".
Até deu para praticar sky aquático nos grandes rios de Angola.
E para dar uns mergulhos, uma das especialidades de Artur, que até quis ser mergulhador da marinha.
"Mas atenção, aquilo era uma guerra, não eram férias", avisa-nos.
Uma guerra que deu a oportunidade a Artur de conhecer o interior de Angola e também Luanda, uma cidade que muito apreciou, onde gozava os seus períodos de folga, embora, por exemplo, Luiana, onde esteve, diste cinco mil quilómetros da capital angolana.
Foram tempos inesquecíveis, sobretudo a bordo das lanchas dos 'fuzos' O perigo é uma profissão que também tem a particularidade de fazer com que nunca esqueçamos tudo o que vivemos no fio da navalha junto dos nosso irmãos de armas.
"A tropa fez-me bem e só tenho pena que hoje não seja obrigatória pois dá-nos muito para a vida, como seja a disciplina", remata, enquanto segura uma das fotos do seu álbum, no tal banco mágico onde basta sentar para que as histórias comecem a ser contadas.
Como agora aconteceu, quando nos sentimos transportados da pacatez da Comenda para os rios e as selvas de Angola.