Não fosse a generosidade de Jorge Basto e não existiria hoje o Parque de Merendas da Ribeira da Venda.
Em 1989, conforme ainda se consegue ler no marco de granito, o então proprietário da Herdade do Vale do Grou ou da Comenda doou os terrenos à junta de freguesia de Comenda, depois de Manuel Jesus Duarte ter tido a visão de ali ver nascer o espaço natural que todos hoje conhecemos.
O Parque nasceu um dia
D' um coração a bater
Esse alguém bem merecia
Ver sua obra crescer
Foi assim que Celeste Tapadas falou da visão e do sonho de um presidente de junta de freguesia que deixou um grande legado à Comenda e que ainda hoje é recordado com saudades.
O processo Parque de Merendas da Ribeira da Venda foi moroso e começou no final dos anos 70 com a construção, por 12.500 euros, investimento da junta de freguesia de Comenda, do açude. A doação chegou dez anos depois, em 1989, com a cedência de 26.652 metros quadrados por parte de Jorge Bastos, dois anos depois de pedida a desanexação do terreno em causa, onde o parque de merendas funcionava, em modo minimalista, desde 1979, depois de feita a desmatação do local e de serem ali colocadas, com autorização da Unidade Colectiva de Produção Agrícola 9 de Abril, mesas e bancos de cimento, bem assim como cozinhas, chaveiros, bar e sanitários, conforme resulta de documentação reunida e coligida pelo comendense Luís Vieira que Lúcio Rente teve a gentileza de nos fazer chegar. Note-se que após abril de 74 várias herdades à volta da Comenda foram nacionalizadas no âmbito da reforma agrária, tendo a reversão de propriedade acontecido apenas no final das décadas de 80 e 90, através de processos bastante complexos e que para este caso não interessam mais aos quais um dia iremos voltar.
Voltando a Jorge de Sampaio e Eça da Fonseca Bastos importa dizer que nasceu em Nisa em 1905 e que se licenciou em Direito, tendo exercido advocacia em Nisa e em Lisboa e casado com a filha de um industrial do Crato. Foi na Herdade do Pereiro, perto de Cabeço de Vide, que começou a dedicar-se a atividades agrícolas, tal como aconteceu na Herdade do Vale do Grou.
A doação de Jorge Bastos parecia ser algo de muito simples mas a verdade é que o processo gastou muita tinta e andou em bolandas de entidade para entidade, ora a propósito de os terrenos estarem em parte em reserva agrícola, ora por problemas de medições topográficos, enfim, uma verdadeira trapalhada burocrática que fez com que só em 2023 a Câmara de Gavião conseguisse legalizar tudo e ainda acrescentar mais um lote de terreno ao do Parque de Merendas, negociando já com os herdeiros de Jorge Basto, num processo também agilizado pelo vereador Rui Paulino, antigo presidente da junta de freguesia de Comenda, O parque de merenda, recorde-se, foi inaugurado oficialmente no ano 2000 pelo então ministro José Sócrates, conforme consta ainda hoje de placa bem conservada à entrada do recinto.
Pois bem, desculpem qualquer devaneio mas vim aqui apenas para alertar a Câmara Municipal de Gavião para a necessidade básica de dar alguma dignidade a este marco que assinala a doação de Jorge Bastos ao povo da Comenda e de Gavião. Mais dia menos dia, a inscrição epigráfica desaparece e, bem vistas as costas, esta doação à Comenda - tal como aconteceu na fonte do Vale do Grou - merecia outra visibilidade no ex libris de Comenda, pelo menos ao nível do registo epigráfico de um político entretanto desaparecido do combate,,.