Sempre que recebo visitas na Comenda conto a história do Castelo Cernado que deu nome a esta aldeia e que os mais antigos continuam a lembrar.
Se por aqui existiu um castelo ou uma torre de atalaia ou de aparato é algo que a história apenas sugere e onde a arqueologia ainda não meteu o colherim, sabido que é que o investimento na investigação arqueológica tem sido nulo no concelho de Gavião, não fugindo à regra do país.
Como todos sabem, a Comenda está rodeada de possantes e importantes castelos na sua época, sobretudo quando falamos dos castelos de Belver e da Amieira, este último provavelmente o mais belo exemplo de um castelo gótico. Mas Montalvão, Nisa, Alpalhão e o Crato também tiveram castelos, para não irmos mais longe, a Castelo de Vide ou ao Marvão. Normal para uma zona de fonteira horizontal (durante a reconquista) e vertical (na época de conflitos vários com os castelhanos).
Sendo a Comenda uma aldeia de formação relativamente tardia em relação à grande época castelar (dos séculos XI ao XV), é provável que nunca tivesse merecido a implantação de um castelo com tudo a que um castelo tem direito. Por isso mesmo inclino-me mais para a tese de que o castelo Cernado fosse um edifício ameado em torre que marcasse a comenda que tinha sede em Belver e atravessava o Tejo por aqui, cofrontando com a comenda que abarcava, em terras já templárias, Amieira, Vila Flor e Arez.
A comenda que deu origem à nossa Comenda pertenceu ao Priorado do Crato - como se sabe sob a asa hospitalária - , tal como acontecia, por exemplo, com Tolosa.
Vamos seguir agora a historiadora Edvidges Alves Apolinário a propósito do que escreveu na sua tese de mestrado sobre a toponímia de Gavião e da Comenda.
Para esta investigadora, a aldeia de Castelo Cernado desenvolveu-se, muito provavelmente, a partir da atual Rua do Vale da Feiteira ou de alguma rua próxima. A datação 1913 ainda presente num portão indica este caminho pois terá sido por aí que a aldeia conheceu o seu grande desenvolvimento.
"Conserva-se, ainda hoje, o topónimo Castelo Velho, junto à Rua do Vale da Feiteira, a par de um conjunto de topónimos relacionados com a vida comunitária: Rua da Fonte da Poça, Rua da Fonte Velha e Rua dos Fornos", escreve ainda Edvidges Alves.
É por aí que vemos ainda as ruas mais estreitas, anteriores a qualquer plano camarário de ordenamento urbano, tal como é visível para norte do Largo Dr. Alves Costa.
Quem anda pela zona a que muitos ainda chamam castelo pode deparar-se com estruturas como esta: um possante muro 'cortado' para abrir passagem, precisamente numa das cotas mais altas da aldeia, por onde andará o castelinho ou a torre que a toponímia consagrou.
Quanto à origem do topónimo Cernado, não nos arriscamos a fazer qualquer exercício de criatividade tipo 'sol nado' pois este é um caminho que muitas vezes nos leva a um charco de onde depois é difícil sair.