Carlos Rosa Nunes nasceu na Comenda e tem hoje 67 anos Aos 17 anos, deicou a aldeia e ingressou na Armada.
No início da sua carreira, andou em navios de superfície e percorreu os mares de Cabo Verde e do Funchal, entre outros. Com esta experiência, concorreu aos submarinos, onde esteve 20 anos, dez dos quais em navegação.
Portugal tinha então no mar a sua quarta frota, constituída pelos submarinos Barracuda, Albacora e Delfim.
Carlos Nunes passou a integrar a tripulação do Barracuda, um submarino que esteve 42 anos em serviço e que chegou a ser o mais antigo das marinhas de guerra da NATO e que mergulhou pela última vez em 2010. Este submarino, contou-nos Carlos Rosa Nunes um dia destes, na esplanada de 'O Choupinho', tinha capacidade para atingir a profundidade máxima de segurança de 300 metros.
"A nossa guarnição era comporta por cerca de 60 homens, entre oficiais, sargentes e praças, e o serviço a borda era assegurado por três quartos - um de serviço, os restantes em descanso", disse-nos enquanto desfiava as suas memórias.
Era o famoso sistema de 'cama quente' pois só havia duas camas para cada três elementos, ou seja, quando alguém a abandonava quem a encontrava sentia ainda o calor humano de quem ali estivera a dormir.
"Não havia higiene pessoal pois a água apenas podia servir para confecionar as refeições e para a lavagem da louça", precisa o submarinista da Comenta, que visitou vários portos, dos Açores à Inglaterra e Escócia.
"Percorri milhares de milhas, juntei milhares de horas de imersão e conheci alguns sustos pelo meio", contou-nos ainda.
Entre os incidentes, um destacou-se, quando a torre do Barracuda ficou seriamente danificada devida ao choque com um petroleiro, numa vinda à superfície.
Momentos de tensão também foram vividos por Carlos Rosa Nunes devido á entrada de água nos comportamentos e quando um incêndio na propulsão, quando o Barracuda navegava a 200 metros de profundidade, que obrigou ao isolamento de um compartimento e a ficar sem propulsão. "Foram lançado very lights vermelhos para que a navegação se afastasse da zona pois vínhamos sem qualquer controlo para a superfície com a ajuda de dois tanques de lastro", descreve Carlos Rosa Nunes esse momento.
O Barracuda, diz-nos ainda, "era
um submarino que estava sempre muito à frente e foi o único submarino português a disparar um torpedo real contra o navio Bandum, que se encontrava à deriva com um carregamento de gás e que foi afundado na sequência do disparo".
Num exercício da NATO, o Barracuda cometeu a proeza de se posicionar sob o porta-aviões americano, simulando um ataque com torpedo!
Carlos Rosa Nunes andou pelo mar em missões mas nunca esqueceu a Comenda e aqui chegou a trazer os seus camaradas do Barracuda. Cá estão eles, em 2014, para um convívio.
A 4.ª esquadrilha de submarinos de Portugal foi rendida pela 5.ª, constituída pelos submarinos Arpão e Tridente, navios com os mais modernos equipamentos ao nível dos submarinos convencionais.
"O Barracuda encontra-se em doca seca, em Cacilhas, transformado em museu e mantendo no seu interior todo o equipamento original", informa Carlos Rosa Nunes.
De toda esta sua história nos submarinos da Armada portuguesa ficam agora "as saudades" deste comendense ligado à história das esquadras de submarinos da Armada Portuguesa, onde conheceu muito bem o comandante Henrique Gouveia e Melo, hoje chefe do Estado Maior da Marinha e também ele um submarinista.