A azinheira e o sobreiro que vivem na mesma 'casa' na Comenda

 


Para quem só agora vive no Alentejo, um dos enigmas que demora a resolver, quiçá para risota de quem é de cá (e note-se que o 'quem é de cá' se manifesta às vezes ruidosamente de norte a sul do país, sem esquecer as ilhas), é a distinção entre a azinheira e o sobreiro.

O que aqui veem é uma azinheira (em primeiro plano) e um sobreiro que ocupam praticamente o mesmo espaço, na rua do Monte da Pedra.

Um 'casamento' que ajuda a explicar as diferenças. Repara-se como o tronco da azinheira é mais escuro e não tem a rugosidade do sobreiro que produz cortiça e tem como fruto a lande. As folhas da azinheira também são diferentes das folhas dos sobreiros, menos longas e com 'pontas' mais pronunciadas. Apresentam  também um tom verde mais claro.


Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Telles, no clássico 'A Árvore em Portugal', que já teve várias reedições, relevam que o sobreiro e a azinheira fogem das zonas baixas, onde costuma haver água em excesso que não lhes permite o arejamento necessário ao sistema radicular. Os autores notam que estas árvores são de folhas perenes e que, como tal, as temperaturas não afetam o seu repouso vegetativo.

O sobreiro, quercus suber, está presente em quase todo o país e embora seja uma árvore de folha persistente, despe-se de folhagem antes da floração, com esta a rebentar logo de imediato e conservando-se sem folhas durante cerca de um mês (uma boa altura para totós como eu o distinguirem da azinheira).

Quanto à azinheira, quercus rotundifolia, normalmente domina as zonas mais secas e tem uma extraordinária adaptação à secura, tendo uma madeira muito densa, dura e com alto poder calorífero. O seu fruto, a bolota, é comestível.

Agora reparem neste sobreiro de que dá bolotas, imagem publicada há algum tempo por Carlos Alexandre no Monte do Polvorão.

Nem mais, é um sobreiro com enxertia de azinheira.

Maria Manuel Miguel na altura comentou: "Estes sobreiros resultavam de experiências que conheci e neste local havia quatro. O meu pai era aí pastor e o barracão das ovelhas era ao pé desses sobreiros".