Os nomes das ruas da Comenda, uma casa renovada e as fontes onde devemos sempre beber

 


Com esta imagem desta casa renovada há dois anos pela equipa de José 'Garrincha', situada perto da Fonte Nova, vamos 'passear' mais um pouco sobre a toponímia da Comenda, que já suscitou muitos comentários numa publicação anterior a propósito da rua Dr. Freitas Martins que Jorge Graça, que ali vivi, garante ter sido conhecida por rua da Fonte (uma rua cujo nome persiste, mas duas ruas para sul, também no caminho da fonte já referida).


Vou acompanhar uma 'fonte' comendense, neste caso Jorge Branco, autor da minha pequena bíblia comendense que dá pelo nome de 'Comenda com Alma'.

A partir da página 47 desse livro precioso, o autor refere que a Comenda "tem uma estória picaresca (adoro esta palavra!) no que diz respeito à toponímia.

Até ao início dos anos 70 do século passado, "as ruas, largos e azinhagas eram em geral de terra batida" e não exibiam placas toponímicas embora os nomes das ruas já existissem e constassem do cadastro camarário. Acontecia apenas "que ninguém achava necessário" ter os nomes afixados, sobretudo o carteiro, que conhecia todos os moradores pelo nome.


Jorge Branco fala, assim, da rua do Mija em Pé [imagem em cima], a atual 5 de outubro, que descia do chamado Largo da Praça (hoje Largo Alves Costa) à Barroca da Cegonha, a que se seguia a rua do Volta Atrás. Da Barroca da Cegonha para nascente surgia a Rua da Fonte Nova, até ao fontanário da aldeia [na imagem abaixo].

"A rua principal", conta ainda, "era a rua Grande, que ia do Largo da Arvorinha (a tal voou com o ciclone) ao Largo do Ti Cortês (atual Largo da Nossa Senhora das Necessidades). Desde a 'Praça' desenvolvia-se a rua do Mato Laranjal (as laranjeiras lá estão a recordar a memória). Do largo da Igreja seguia a rua da Fonte Velha, a caminho da fonte que ainda ali podemos ver depois de caminhar um pouco por carreiro de terra batida.


As várias transversais da Comenda, informa Jorge Branco, não tinham nomes especiais, sendo designadas pelos nomes de algumas pessoas que ali viviam ou tinham um estabelecimento, como eram os casos da rua do Albino, a atual Freitas Martins, a do Chico Adelino e a do Zé do Torrão.

Algumas zonas, como a mais antiga da Comenda, destacavam-se pelo respetivo nome, como era o caso do Monte Novo, que deu origem à respetiva rua e travessa.

Jorge Branco informa que foi já no último mandato autárquico antes de abril de 74 que o presidente da junta recebeu ordens para colocar placas toponímicas, o que gerou uma certa confusão, Vivia-se o estertor do antigo regime e, por isso, os nomes escolhidos destacavam figuras do Estado Novo, de Oliveira Salazar a Américo Tomaz (se alguém se lembrar deste momento, agradecemos a confirmação).

Com a revolução, os novos nomes das ruas foram 'saneados' e até se pensou tirar o nome dá já então rua Dr. Freitas Martins por suposta ligação deste médico ao regime que tinha sido apeado do poder. Mas o 'diagnóstico' estava errado e a rua permaneceu até hoje com esse nome.

A toponímia é sem dúvida um tema apaixonante e que prometemos aprofundar.

Jorge Branco deixou à Comenda, com o livro referido e com 'Comenda com Gente', um tesouro precioso. Tal como aconteceu com o meu pai quando, em Matosinhos, dedicou um livro à rua onde nasceu e cresceu, a rua Brito e Cunha, onde o meu avô Delfim, com raízes na Galiza (Caldas de Rei), tinha, na companhia da minha avó Eugénia (natural de Gouvães do Douro, Pinhão, e filha de pai incógnito que todos conheciam), uma oficina de alfaiate - já agora os meus outros dois avós, Álvaro Ferro e Teresa, têm raízes, respetivamente, em Elvas (hélas!) e Leça da Palmeira.


A propósito da imagem de capa, Luís Guedelha escreveu:

"Conheci bem os donos da casa,  a minha mãe era  muito chegada a esta familia e até era afilhada da dona, muita vez ali entrei e adorava abrir e fechar o portão pequeno pois tinha uma campainha tipo sino igual às que punham ao pescoço das cabras. Sempre adorei esta casa. A minha tia Josefa da Graça  era a lavadeira oficial  da roupa  da casa do sr Augusto Reis..."

JORGE GRAÇA TAMBÉM COMENTOU:

"A Casa de Augusto Reis, pessoa simpática, magro e estatura mediana, não se misturava com o comum dos Comendenses. Trabalhava no ramo dos seguros."

Luís Guedelha acrescentou ao comentário de Jorge Graça:

'Jorge Graça  e não só 😉Antes esteve na estação da Cunheira com a função de chefe da estação  ou Feitor é este nome dado não é?

Isto foi o que sempre ouvi dizer pois sempre o conheci e  vi foi 

Ou em casa ou na loja do cunhado dele o Camilo ou no café do Zé Miguel ou na casa e algumas vezes sentados á porta do outro cunhado o João Maia isto para não falar de muitas vezes o vêr também na casa do João Herculano outro cunhado dele assim  como às vezes também o via sentado à porta do teu tio Oliveira .

Ah .... e também o via na conversa à porta ou em casa de outro, sim outro cunhado o Canha 👍 pois é faltava o Canha  a filha do Augusto Reis ,a Rosinda andava muito com a prima e filha do Canha a Fernanda 👍.'

ATUALIZADO A 18 DE FEVEREIRO DE 2024