É mais uma estação desativada do ramal de Cáceres, por onde não há muitos anos se fazia uma das principais ligações ferroviárias entre Lisboa e Madrid.
Por aqui andou o famoso 'Talgo' e também o 'Lusitània Expresso". Hoje, na estação da Cunheira sobrevive a ruína e o silêncio.
Para quem vivia na Comenda/Castelo Cernado, a estação da Cunheira dava muito jeito. De ali vinham o peixe o outros produtos, transportados de carroça ou depois em veículos motorizados (e até a pé), num caminho largo de cerca de dez quilómetros que ainda hoje se pode fazer.
A estação servia ainda os comendenses que trabalhavam na Grande Lisboa e que vinham à Comenda ao fim de semana ou noutras alturas.
Poucos pensam na mobilidade de quem mora no interior e o abandono desta linha é mais um exemplo dessa indiferença. Vá lá que os carris continuam por lá enquanto o edificado se degrada.
Reparem, há um par de anos a estação estava assim
Hoje, tudo está entaipado e o nome da estação desapareceu do edifício principal e do banco de espera.
Seria interessante escutar de vez em quando os políticos locais a falarem sobre a necessidade de reativar esta linha e também de reforçar os dois comboios diários que circulam aqui perto, na linha do Leste. E ter em conta que não é só a mobilidade de grande espectro que conta. Por exemplo, o reforço da circulação da Linha do Leste (que esteve encerrado durante algum tempo) de pouco serve para quem da Comenda e desde a Chança quer ir de comboio a Ponte de Sor e voltar no mesmo dia pois o primeiro comboio para lá é depois das 14 horas e não há comboio para voltar a uma estação que dista cerca de 20 quilómetros da Comenda, um pouco menos do Monte da Pedra e que podia servir também quem vive no Crato, na Aldeia da Mata ou na Cunheira para ir e voltar do trabalho (tenha-se em conta que Ponte de Sor hoje oferece grande oferta).
Digo eu que tenho automóvel e já me servi da estação de Chança (que está num estado miserável) para a ligação para o Entroncamento e de aí seguir para o Porto, num percurso de 3 horas e meia, o que é pouco mais que o tempo que demora de carro da Comenda à Invicta, partindo do princípio que se passa bem na Ponte da Arrábida...
JOSÉ MANUEL COSTA COMENTOU:
"Recordo com muita saudade os momentos de alegria, quando chegava lá de Lisboa e a tristeza até às lágrimas, quando regressava de novo a Lisboa."
JORGE GRAÇA COMENTOU:
"Servia de duas formas: uma pelo Vale da Feiteira, de carroça, de bicicleta, motorizada, ou a pé. A outra pelo Monte da Pedra de carro ou de táxi."
CARLOS GASPAR COMENTOU:
"Muitos domi gos, às 20h, apanhei o comboio com destino a Lisboa. Foi um grande centro de carregamento de madeiras. Toda a mercadoria para as povoações vinha ter a esse centro.
A primeira primeira bicliclete que tive demorou 8 dias a chegar, o meio de transporte foi o comboio, aí ficou na estação e depois foi de carroça para a comenda.Tempos que não voltam mas ficam registados."
MANUEL PORFÍRIO ESCREVEU:
O meu pai, Francisco Carvalho, tinha uma carroça com a qual fazia o serviço combinado com a CP levando encomendas que eram despachadas na nossa casa e trazia as mercadorias que de vários locais se destinavam à Comenda e Vale da Feiteira pelo caminho de terra batida que passava pela ponte do Sr José Alves. Fiz muitas viagens com ele. O percurso pelo Monte da Pedra, por estrada, só era feito quando a carga era maior. As viagens dos comendenses para Lisboa faziam-se principalmente por Belver, onde nos levava a carreira dos Belos.