Castelo de Montalvão: 360º entre Portugal e Espanha e com a serra de S. Mamede em recorte

 


Durante mais de três séculos, Montalvão foi sede de concelho. O seu castelo era e continua a ser o seu ex libris, situado no ponto mais alto da vila e com um domínio de 360 graus da paisagem. De ali se avistam hoje as neves do ponto mais alto da Estrela, terras de Espanha que se desenvolvem para nascente (com a vizinha Cedillo à vista, depois do Sever), a serra de São Mamede num recorte incrível e também a peneplanície do norte alentejano. Para norte, bem definida, a capital de distrito de Castelo Branco. Para poente, bem perto, Pé da Serra bem encostada ao grande monte que lhe dá nome.


Ali estivemos por estes dias e o impacto foi brutal. Não tanto pelo castelo, que está arruinado mas ainda com os seus contornos definidos, mas sobretudo pelas perspetivas. Este é um castelo que não tem o destaque topográfico do castelo de Marvão mas que abre vistas bem mais amplas.

Este castelo já foi cemitério, até meados do século XX, e também já aqui contou com um parque infantil. O depósito de água que veem, e que está em serviço, violou a zona da porta do castelo mas está feito, está feito...

Da antiga estrutura, para além dos panos da muralha de xisto, resta uma cisterna, elemento importante em qualquer castelo, de forma a garantir o abastecimento de água durante cercos, como aconteceu no início do século XIX, na tal 'Guerra das Laranjas' que nos fez perder para Espanha a praça de Olivença. Montalvão, ao contrário de outras fortalezas, nessa altura resistiu a tiro de canhoeiras.

"A cisterna que refere no castelo de Montalvâo, trata-se da cripta do que resta do jazigo da Senhora Mariana " a freira " como era conhecida", informa José Manuel Semedo. Estas escadas são o acesso precisamente à cripta. 

Antes deste momento, no início do século XVI, o desenhador do reino Duarte D'Armas, mais o seu fiel escudeiro, desenhou uma vista do castelo de Montalvão, que nessa altura já estava bastante arruinado (seria restaurado no século XVII, preparado já para tiro pirobalístico).

Para além da sua peculiar planta oval, este castelo desde antanho apresenta o que alguns autores leem como um alambor, essa rampa junto à muralha trazida do médio Oriente pelos templários e aplicada pela primeira vez no castelo de Tomar no século XII, um recurso que dificultava qualquer tentativa de escalada ou abordagem das muralhas. Este alambor pode ter sido, aqui, apenas o resultado do aproveitamento topográfico com o reforço de um pódio natural mas não foi isso que nos trouxe a este castelo e deixamos o assunto para os especialistas.


Tudo isto apenas para reforçarmos que Montalvão, terra que não atinge hoje os 300 habitantes e que esteve seis anos sem ver uma criança nascer, merece uma visita sem pressa, com passagem obrigatória pelo seu castelo.


Um castelo situado junto à igreja matriz, onde posou o grupo que assinalou o 4.º aniversário do grupo do facebook Gavião e Nisa Património e Turismo.

Adoramos Montalvão e ali iremos certamente voltar muitas vezes.