As histórias que estão por contar sobre o Vale do Grou

 


Hoje, quando a chuva voltou à Comenda/Castelo Cernado, no início de um novo ano, vamos viajar até ao Vale do Grou.

Onde, durante muitos anos, comprovadamente desde meados do século XVIII até momento indeterminado, esteve a igreja paroquial deste pequeno território que hoje tem por cabeça a aldeia da Comenda, situada a um quilómetro e meio do Vale do Grou.

A antiga igreja da paróquia continua de pé e normalmente abre por altura da festa da Nossa Senhora das Necessidades, em setembro. Os sinos já desapareceram do pequeno campanário mas o cemitério da paróquia continua ali ao lado.


Errata: data do vídeo 5 de Janeiro de 2023

No caminho desde a Comenda à antiga igreja, muito perto desta, encontra-se uma fonte, com data de 1935, mandada fazer por José Bastos, tio do de Jorge Bastos, que foi proprietário da herdade da Comenda ou do Vale do Grou [Nuolinda Dias Soares, in "Comenda com Gente", p.99].


Carta de 1871, cedida por Montalvam. Atente-se que Comenda surge no lugar de Vale do Grou

O povoamento neste pequeno território parece ter conhecido um caminho que o levou de Vila Franca, na zona superior da margem direita da Ribeira da Venda, no atual parque de merendas e piscinas, até ao Vale do Grou e daqui para a atual aldeia da Comenda, outrora conhecida apenas por Castelo Cernado.

Do antigo lugar de Vila Franca, onde se recolheu muito material de construção e onde no início do século XX ainda se identificavam vestígios estruturais de uma antiga igreja (o que pode indiciar povoamento consolidado), as gentes daqui mudaram-se para o Vale do Grou. É algo que está comprovado pelas memórias paroquiais mandadas executar pelo Marquês de Pombal, em 1759, depois do grande terramoto, precisamente para apurar prejuízos um pouco por todo o país. Nessas memórias, diz-se que houve um povoado conhecido por Vila Franca, junto da Ribeira de Venda de Carneiros, "onde se têm achado cálices e alicerces" e onde funcionou até ao ano de 1755 a igreja paroquial "solitária, sem vizinho algum". Ou seja, nesta altura o povoado já se teria deslocado, ficando a dúvida sobre se o grande terramoto de 1755 terá contribuído para a ruína. O cura, António Lopes, que redigiu esta memória refere que foi a peste a provocar o despovoamento do lugar, provocando a mudança do povoamento para junto da nova igreja do Vale do Grou, situada a pouco mais de 20 minutos a pé, no sentido nascente.


Em meados do século XVIII, ainda segundo as memórias paroquiais, o Vale do Grou tinha onze casas, ocupadas por 36 pessoas, entre as quais cinco menores, Na mesma altura, Castelo Cernado apresentava trinta fogos e registava 83 residentes, entre os quais 11 menores. O Vale da Feiteira era, então, o lugar mais povoado: 38 fogos, 98 residentes (11 menores). Nos depoimentos recolhidos por Jorge Branco, no precioso 'Comenda com Gente', percebe-se que nos anos 30/40 só ali se viam materiais resultantes da ruína da antiga ermida e do provável antigo povoamento.

Nossa Senhora da Graça era, nessa época, o orago de uma igreja na qual ocupava o altar-mor, ao lado de Nossa Senhora das Necessidades, "aí concorrendo muitos romeiros". A igreja tinha mais dois altares laterais, dedicados a São Sebastião (santo que segundo a tradição afastava as pestes) e Nossa Senhora do Rosário. Segundo Maria Flores Mendes [in "Comenda com Gente", p.207], a imagem de São Sebastião, do século XVIII, foi roubada da igreja e seria a mais valiosa estatuária deste pequeno templo.

Ao Vale do Grou e a Vila Franca iremos voltar em breve.


Contributo de Fernando Martins Oliveira:

Trabalhei por lá em 1970, o ti Raul marido da ti Ana era o feitor do dono da herdade Dr. Jorge Bastos que dispensou os terrenos para a fábrica de tacos I. F. A. L, tinha uma motorizada casal de 4 e nunca passou da segunda velocidade dizia que era mais seguro...

Contributo de Jorge Graça:

Segundo as minhas memórias o Monte Telhado ou Monte Telhal ficava num lugar nas costas da igreja na Comenda, depois de passar a cabine do transformador da EDP (não sei se ainda lá está) por esse caminho para as hortas uns 150/200 metros e era junto a um Pinhal, era um lugar para onde íamos brincar quando miúdos em idade escolar devido às grutas que havia no meio do pinhal, nessas grutas tiravam o barro para fazer tijolos e telhas, também havia uma casa um forno e um poço tudo em ruínas isto há 50 anos.