Um dos mais notáveis políticos portugueses escolheu Gavião como última morada

 


O concelho de Gavião foi a última morada de um dos maiores estadistas portugueses: José Xavier Mouzinho da Silveira.

O político nascido em Castelo de Vide destacou-se durante os primeiros passos do liberalismo, na primeira metade do século XIX. Durante a sua vida política, pugnou sobretudo por boas contas públicas e foi responsável por uma das primeiras grandes reformas administrativas do país.

Hoje, o seu nome consta em ruas e avenidas de grandes e pequenas cidades portuguesas e também de vilas. No Porto, por exemplo, a rua Mouzinho da Silveira liga a estação de S. Bento ao Palácio da Bolsa, tendo sob ela o antigo Rio da Vila.

Mouzinho da Silveira, que se desligou da política nos seus últimos dez anos de vida, tendo falecido em 1849, em Lisboa, escolheu dois locais de sepultura: os cemitérios da ilha do Corvo (ainda hoje o mais pequeno município português) e o da freguesia de Margem, em Vale de Gaviões.

E porquê aqui? Mouzinho foi eleito deputado, em 1836, indicado pelo concelho de Gavião, tendo sido o segundo mais votado (13 votos), atrás Matias Aires de Seixas (23). Ou seja, Gavião indicou e elegeu dois deputados. Hoje, o distrito de Portalegre elege apenas dois para a Assembleia da República! Mas não foi esta ligação que levou Mouzinho a escolher Margem como último destino. Fê-lo porque foi em Vale da Vinha, na casa do amigo Manuel Lopes da Maia, que foi acolhido durante os momentos mais difíceis da sua vida.

"São gentes agradecidas e boas e gosto agora da ideia de estar cercado, quando morto, de gente que a minha vida se atreveu a ser agradecida", foi o desejo que deixou ficar e que foi cumprido.

Atual cemitério de Margem, em Vale de Gaviões. Mouzinho foi inicialmente sepultado no antigo cemitério 

Esclarece Natália Nunes: Não foi nesse cemitério, cuja foto apresenta, que ele foi sepultado. Antes de existir esse cemitério da foto, havia o cemitério antigo, atrás da igreja. Ainda eu era pequena, quando esse cemitério deixou de ter a sua funcão, depois de construído o outro. Depois foi vendido esse terreno e fizeram algumas construções. Quem não conheceu o outro, não faz ideia de que existia.
Natália Nunes olá  Natália  

Acrescenta Adélia Vitoriano: E por acaso também  não  foi nesse  cemitério, que foi vendido  a várias  pessoas,  que foi sepultado o Mouzinho da Silveira ...mas sim no Cemiterio  do Vale de Igreja, do qual me lembro  dos destroços. Tenho um terreno perto e por várias  vezes lá  fui por curiosidade  mas depois o dono  mandou  arrasar tudo. Pena minha e foi de lá  que vieram para a nossa igreja  algumas imagens, como a Senhora Da Graça  e o S. Bartolomeu. Palavras  dos meus avós. 

Por isso, foi sepultado no cemitério da Freguesia de Nossa Senhora da Margem mas em 1875 os seus restos mortais mudaram-se para o monumento funerário que ainda podemos ver quando passamos junto à igreja matriz, a caminho de Ponte de Sor. Entendeu-se que a sua sepultura se encontrava abandonada e que Mouzinho merecia uma memória digna.

Este monumento em mármore foi erigido através de subscrição pública. É seu autor o escultor francês Anatole Calmels.

Portugal tem muitos Mouzinhos da Silveira mas é aqui, no concelho de Gavião, que o grande estadista português repousa. Sempre que passo por lá, honro a memória de um político que nasceu rico e que foi íntegro e exemplar.