Há muitos séculos que os caminhos francês e português para Santiago de Compostela se afirmam como uma estrada de desenvolvimento para as cidades, vilas e aldeias que tocam.
Nas últimas décadas, o caminho português, sobretudo desde o Porto ao dito Campo das Estrelas, conheceu uma animação que há muito não era vista, ativando uma série de negócios (do pequeno café ao restaurante, passando por alojamentos vocacionados para acolher peregrinos). O que é curioso é que tudo aconteceu de forma espontânea, ou seja, não resultou de qualquer campanha de marketing milionária. O mesmo se dizendo do agora chamado Caminho da Costa, que aproveita muitos dos passadiços da orla atlântica a norte do Porto, e que não sendo um caminho tradicional tornou-se numa verdadeira 'coqueluche', sobretudo atraindo peregrinos alemães graças a um best-seller editado naquela país.
Com uma extensão de 138 quilómetros, o Caminho Português de Santiago-Caminho da Costa atravessa os municípios do Porto, Matosinhos, Maia, Vila do Conde, Póvoa do Varzim, Esposende, Viana do Castelo, Caminha, Vila Nova de Cerveira e Valença, e foi reconhecido em fevereiro do ano em curso.
Os caminhos históricos para o túmulo de Santiago/Mata Mouros são: Caminho Francês, Caminho do Norte, Caminho Português, Via da Prata, Caminho Inglês, Caminho Primitivo e Rota Marítimo-fluvial.
O Caminho Português é constituído por várias vias, sendo que a mais longa é a que parte de Lagos, no Algarve, ainda que o principal ponto de partida se encontre no Porto, mas também em Lisboa, conforme salienta Ana Catarino Duarte, na sua tese de mestrado.
A Via da Prata, ou Caminho Moçárabe, também conhecida como Caminho do Sudoeste ou Caminho Leonês, tem o seu ponto de partida em Sevilha e segue paralelo, em território espanhol, à raia portuguesa, na direção do norte, aproveitando a via romana que ligava Mérida a Astorga.
Eu próprio, que não sou crente, já fiz parte do caminho português, em 2015, com um grupo de amigos, de Valença a Muxia, passando por Santiago e Finisterra, uma jornada inesquecível de dez dias na qual caminhei ao lado de um peregrino que tinha partido de Jerez de La Frontera, seguindo a Via da Prata até esta entroncar com o Caminho Francês.
Por isso, quando há poucos dias me deparei, no Crato, com sinalética daquele que não sendo um caminho oficial de Santiago será há seculos uma das vias mais calcadas por peregrinos rumo à cidade galega, parei para meditar. Na imagem, esse caminho a 'chegar' ao Crato, vindo de Alter do Chão, para depois tomar o rumo de Nisa.
Esta não é claramente uma via muito percorrida por peregrinos mas que tem todo um potencial, por atravessar paisagens únicas não apenas no Alentejo. A sua sinalização e preservação farão muito pelo desenvolvimento de um caminho que estando semiadormecido pode vir um dia a despertar, proporcionando aos peregrinos uma viagem de pouco mais de 30 dias entre o extremo sul de Portugal e Santiago de Compostela, um espaço temporal semelhante ao exigido pelo Caminho Francês a partir dos Pirenéus.
Numa região, como o Alto Alentejo, tão carente de recursos, esta é uma via merece ser olhada com carinho por todos nós e sobretudo por aqueles que gerem os nossos impostos.