Em tempo de adeus ao Cabo do Mundo e a Matosinhos


Muitos são aqueles que nos perguntam por que razão vamos deixar o Cabo do Mundo - onde vivo há quase 17 anos - para ir viver para o interior do país, neste caso para a aldeia da Comenda, concelho de Gavião, distrito de Portalegre.

Confesso que não sei responder cabalmente a esta pergunta. Apenas posso dizer que é a resposta ao desejo de terminar vidas num lugar não poluído pelo ruído e não contaminado pelo stress. Após 40 anos de trabalho, com muitos momentos frenéticos pelo meio, apetece desacelerar a vida, na ilusão de que o tempo passará a andar mais devagar, acompanhando a quebra de vigor que os nossos músculos, tendões e ossos vão conhecendo.

À Comenda nada nos liga, apenas andamos por lá no último ano a conhecer melhor a aldeia e as suas gentes. Onde fomos muito bem acolhidos e onde encontramos a tal paz que muito se apregoa na filosofia de bolso das redes sociais mas que se calhar poucos almejam alcançar. Porque a vida inocula-nos 'vícios' e um deles é a necessidade de movimento, agitação e novidades.

Obviamente, o que fica para trás não se esquece e, claro, iremos ter saudades deste mar, deste ar e destas gentes, embora os nossos amigos já saibam que terão sempre na Comenda um porto de abrigo.

Este país não estimula quem vive num litoral densamente povoado a mudar-se para um interior que vive um pesado inverno demográfico. Temos reformados de vários países a terminarem aqui os seus dias também porque Portugal lhes oferece benefícios fiscais - mas, já sabemos, o Fisco por aqui é uma máquina de cobrança e está fora de questão qualquer medida. São outros quinhentos.

O que ora conta é que estamos a viver num limbo, entre a partida e a chegada, entre a saudade e a renovação. Provoca uma leve tontura, sim - mas é sobretudo um sinal de renovação, dobrado que está o Cabo do Mundo, por outros mares em breve navegando...