Uma aldeia de Portugal em luta com a perda demográfica

 


Quem viveu uma vida nas cidades, no meu caso entre Matosinhos/Porto/Gaia e Lisboa, a mudança para o interior implica sempre um período de adaptação. Há sensivelmente dois meses, decidimos instalar a nossa base também na aldeia da Comenda, no norte alentejano. Não nos perguntem porquê, apenas aconteceu, depois de comprarmos um terreno no Moinho do Torrão, também no concelho de Gavião, no caso na freguesia de Margem, no limite com o concelho do Crato e Ponte de Sôr. Ali estávamos a pensar instalar uma casa modular mas a Câmara foi perentória e não autorizou. A construção em alvenaria, como se sabe, está pela hora da morte, é demorada e os seus custos são quase incontroláveis. Por isso, pusemos o projeto de lado e avançamos para outra solução: adquirir uma casa passível de ser melhorada.
Esta zona do Alentejo está repleta de oportunidades. A aldeia da Comenda tem uma oferta diversa e extraordinária. Foi, por isso, a nossa escolha, depois de ali termos estado duas semanas a viver. É uma aldeia cabeça de uma freguesia integrada num concelho que, segundo os resultados preliminares do Census 2021, tem 3338 habitantes, depois de ter registado 4132 no Census 2011, ou seja, com uma perda demográfica de 17,8% em apenas dez anos! A Comenda registou 651 eleitores no último ato eleitoral quando em 2011 tinha 796, o que confirma o défice populacional.
A sua zona industrial, completamente desocupada, demonstra a falta de oportunidades para os jovens locais que ali se querem fixar e o turismo ainda não é uma alavanca real, faltando por ali oferta de alojamento de custos acessíveis. Mas a Comenda tem todo um potencial por explorar. Distante pouco mais de 40 quilómetros de Portalegre, sede distrital, e pouco mais de 60 de Castelo Branco, tem Nisa e o Crato ali perto, num instante estamos em Castelo de Vide, Marvão e em Espanha (agora dá muito jeito para abastecer o depósito do carro). Mas é sobretudo por aquilo que é como comunidade e pelo seu entorno que a Comenda se recomenda. Iremos continuar a dar notícias da Comenda e dos seus comendenses, com a humildade que quem ali chegou agora e muito ainda tem para aprender e apreender.
Para já, obrigado pelo acolhimento.