S.JOSÉ DAS MATAS Uma viagem a um passado que já não volta

 


Graças ao projeto Por Este Rio Acima, no passado sábado fomos conhecer S.José das Matas, aldeia do concelho de Mação, entornada para o Tejo e perto de Envendos, naquela parte Este do concelho de Mação que fica para além da freguesia gavionense de Belver.

A visita começou na estação ferroviária de Envendos/Amieira do Tejo, onde apenas a estação, este edifício recuperado para alojamentos e uma casa escapam da ruina.

Mais abaixo, a barca de passagem agora está sem serviço, depois de, graças à Câmara de Nisa, ter estado a funcionar no verão. Atente-se na imagem e veja-se como do lado de Nisa está tudo bem tratado e como na outra banda, que compete a Mação, tudo se encontra como que abandonado. Um velho conflito entre as duas autarquias faz com que numa margem o acesso seja uma vergonha e que do outro seja um exemplo. Um problema crónico deste país gerado pelo facto de as autarquias apenas cuidarem do seu 'quintal', elevando interesses mesquinhos para o sítio onde devia ser valorizado o interesse público.

A antiga barca de passagem ainda cá está, do lado de Mação, depois de nas cheias de 1979 ter sido para aqui atirada (até um pouco mais acima, a seguir é que foi escorregando). Do rio foi retirada noutros tempos a cascalheira e a areia que serviram para fazer a barragem de Pracana, com tudo a ser transportado por cabos teleféricos até lá.

Estas visitas passam muito por lugares que estiverem prenhes de vida e que hoje permanecem abandonados. Como acontece na antiga cooperativa agrícola, onde neste lagar se chegou a tratar 393 toneladas de azeitona.


As prensas parecem prontas a funcionar mas a verdade é que já estão paradas há algum tempo e não há perspetiva de reativação. Em S. José das Matas já viveram mais de 800 pessoas, hoje são 140 e o principal e único empregador é o lar. Um retrato de um país em desertificação acelerada a que os políticos que comem bem nos restaurantes de Lisboa apenas se dedicam em campanha eleitoral, apetecendo seguir o que em Alter se dizia quando aqueles ali chegavam: "Deixa-os ganir".

Na parte da visita que consegui seguir ainda deu para conhecer a igreja matriz de S. José das Matas, templo dedicado a S. José.

Também com nome nestas escadinhas.

A Igreja de S. José é relativamente nova e foi concluída em 1969 sobretudo graças ao contributo do povo. As mulheres chegaram a contribuir com uma galinha por cada uma enquanto os homens ajudaram na obra. O antigo templo encontrava-se neste local e foi demolido em 1962. Era muito pequeno, foi o argumento, para a tanta gente que entretanto se foi... Agora, este provavelmente é demasiado grande!

Não deu para provar o 'afogado da boda' (carne de cabra com hortelã e vinho branco), um dos manjares da gastronimia da Beira Baixa, mas ficou a certeza de que valerá a pena voltar a S. José das Matas, até para dar um saltinho a Envendos e comprar o célebre presunto DaMatta. Um presunto que muito fica a dever aos porcos do alentejo, cujas varas passavam na barca da Amieira e subiam por S.José das Matas, a caminho do destino final. Os porcos, conta-nos quem viu, vinham gordos e alguns ficavam pelo caminho exaustos, sendo apanhados depois por um carro especialmente preparado para os retardatários na subida do Tejo até Envendos.

Na aldeia de S.José das Matas, antigamente, as famílias trocavam com Envendos presunto por toucinho pois este rendia mais para o conduto.